Marcos Ferraz: a medicalização da vida e suas consequências, em mais um episódio do Enloucast
Novo episódio do Enloucast, o podcast fora da caixinha do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Laps/Ensp/Fiocruz) e do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE-Fiocruz), traz como convidado o professor de Psicofarmacologia Marcos Ferraz, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Em conversa com as apresentadoras Camila Motta e Jéssica Marques, integrantes do Laps, Marcos Ferraz discute o uso clínico de psicofármacos e os impactos da medicalização mesmo em situações de sofrimento muitas vezes rotineiras, e destaca os desafios dos educadores na formação crítica de futuros profissionais da saúde.
O professor, que também é biólogo pela Uerj, explica que, ao entender a relação entre em biologia e psicologia, pôde analisar, a partir da neurociência, como se dão o comportamento e as emoções humanas. “O interesse pela Psicologia nasce quando tento explicar apenas através da neurotransmissão, como se dão as bases neurais do comportamento humano”, conta.
De acordo com o professor, ter tido a oportunidade de estudar dois campos distintos, como a Biologia e a Psicologia, lhe possibilitou conexões ao “enxergar o mesmo assunto, sem reduzi-lo apenas a uma reação química do organismo”, explica.
Marco Ferraz vê na formação dos novos profissionais de saúde um desafio a ser enfrentado, hoje. Conforme lembra, desde que iniciou seus estudos no campo da Psicologia, houve muitos avanços importantes, pois existia no passado um distanciamento entre o profissional da saúde e o paciente, em que se negligenciava o papel do afeto e das relações interpessoais e sua associação com a saúde mental das pessoas. “Quebramos paradigmas”, afirma o professor.
Um dos projetos desenvolvidos por Ferraz discute o uso clínico de psicofármacos levando em conta a “medicalização da vida”. Para o professor, um dos desafios da psicofarmacologia é justamente enfrentar dogmas e construir o conhecimento a partir de evidências clínicas e experimentais. “A ciência é baseada na crítica radical, e, portanto, não pode existir dogma em ciência”, observa, alertando que um mesmo medicamento quando usado de forma equivocada pode passar de remédio a veneno. “O que remedia e o que envenena é a dose final”, salienta.
Para o professor, nesse sentido, a biologia tem papel importante e nos ajuda a entender sobre patologização e medicalização de aspectos da vida cotidiana. “Nem tudo é patológico, nem tudo é doença, e nem toda a variedade do comportamento humano deve ser medicada”.
Sobre a série Enloucast
O Enloucast tem a coordenação do psiquiatra e sanitarista Paulo Amarante, presidente de honra da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme) e pesquisador sênior do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Laps/Ensp/Fiocruz) e do CEE-Fiocruz. O podcast fora da caixinha é uma iniciativa do Laps/Ensp/Fiocruz, em parceria com o Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz e teve seu lançamento em 9/11/2023, no 7º Seminário Internacional Epidemia das Drogas Psiquiátricas, com o objetivo de ampliar o debate sobre Saúde Mental para além dos muros da Academia.
O perfil dos entrevistados inclui usuários, ex-usuários, sobreviventes (expressão utilizada para identificar pessoas que conseguiram superar o modelo psiquiátrico de tratamento) e profissionais e pesquisadores de saúde mental, que desenvolvem práticas inovadoras. A ideia é trazer para a pauta a visão de uma saúde mental mais ampla, humanizada, para além da ausência de doença, da ideia de transtorno e que ultrapasse o caminho da medicalização.
As entrevistas do Enloucast podem ser acessadas na plataforma Spotify, no canal do Laps no Youtube e no blog do CEE-Fiocruz.
Assista aos episódios da série Enloucast
2ª Temporada
1ª Temporada
Casa Tuxi, a pousada da inclusão e do acolhimento, em pauta no terceiro episódio do Enloucast
Arte como terapia, em mais um Enloucast, o podcast ‘fora da caixinha’ do CEE-Fiocruz