SUS como referência internacional: jornal ‘Deutsche Welle’ destaca cooperação entre ResiliSUS do CEE-Fiocruz e NHS britânico

SUS como referência internacional: jornal ‘Deutsche Welle’ destaca cooperação entre ResiliSUS do CEE-Fiocruz e NHS britânico

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Alessandro Jatobá (no centro) e equipe do ResiliSUS/CEE encontram-se com Robert Klaber, do Imperial College (camisa branca), e Vinicius Ladeira Fonseca, diretor médico do do Super Centro Carioca

O modelo do SUS como inspiração para o sistema de saúde britânico (NHS) foi tema de nova reportagem na imprensa internacional, desta vez, no jornal alemão Deutsche Welle. A matéria destacou que pesquisadores do Imperial College de Londres (ICL) estão estudando formas de adaptar ao Reino Unido o trabalho realizado pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACSs) no Brasil. A iniciativa ocorre por meio de uma cooperação com o grupo de pesquisa Tecnologia, Informação e Resiliência em Saúde Pública (ResiliSUS), do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz Antonio Ivo de Carvalho (CEE-Fiocruz). O objetivo é compartilhar com o NHS metodologias baseadas na experiência brasileira, com foco no fortalecimento da resiliência em saúde pública. Reportagem com esse tema havia sido publicada no jornal britânico The Telegraph.

Conforme apontou na reportagem o coordenador do ResiliSUS/CEE, Alessandro Jatobá, os ACSs simbolizam a resiliência do SUS, garantindo suas funções essenciais mesmo diante de adversidades. "Não adianta você ter um sistema de saúde com enorme capacidade institucional, num país super rico, se você tem barreiras de acesso. E a Estratégia Saúde da Família, no Brasil, é muito bem-sucedida em gerar conhecimento sobre o território, para desenhar o cuidado e facilitar o acesso, principalmente das populações mais vulneráveis", afirmou.

Jatobá ressaltou que o ACS é o grande disseminador da capacidade adaptativa do SUS, possibilitando que os serviços cheguem a comunidades remotas, povos tradicionais e regiões afetadas pela violência urbana.

A reportagem também apresentou o relato de Bernardo Xavier, agente comunitário de saúde selecionado pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro e enviado pelo ResiliSUS a um intercâmbio em Londres, em março de 2025. A iniciativa tem como objetivo adaptar ao NHS o modelo brasileiro dos ACSs.  “O SUS é a maior conquista que a gente tem enquanto população, apesar de todas as campanhas de sucateamento", declarou Bernardo Xavier ao Deutsche Welle
 

O modelo brasileiro de agentes comunitários e o NHS

Como informou o Deutsche Welle, a cooperação entre os sistemas de saúde do Brasil e do Reino Unido consolidou-se a partir da experiência do médico sanitarista Matthew Harris, que morou no Brasil e atuou por quatro anos em uma unidade de Saúde da Família. Lá, ele conheceu os ACSs, fundamentais para a eficiência do atendimento, diferentemente do NHS, que possui um modelo mais reativo. “Descobri que eles eram realmente essenciais para o meu trabalho como médico de família, tornavam o meu trabalho muito mais fácil, melhor, mais eficiente e eficaz, porque podiam me dizer o que está acontecendo de fato na comunidade", conta Harris, ao citar o trabalho dos ACSs.

De acordo com a reportagem, ao retornar ao Reino Unido, Harris tentou por anos implementar um projeto-piloto, enfrentando resistência. Somente em 2021, após apresentar evidências científicas e considerando os impactos da pandemia, o projeto avançou.

Conforme destacam, a médica Connie Junghans-Minton, que supervisiona a iniciativa em Londres, explica como a crise sanitária evidenciou a necessidade de um maior vínculo entre os serviços de saúde e as comunidades. “Temos um modelo de sistema de saúde em que o foco está no tratamento, nos procedimentos, nos médicos. Com a pandemia, as pessoas perceberam que não conheciam bem suas comunidades", conta Connie Junghans-Minton, que esteve no Brasil, participando de seminário internacional sobre resiliência, a convite do ResiliSUS/CEE.

Para explorar os desafios do NHS e a adaptação do modelo dos Agentes Comunitários de Saúde (ACSs) brasileiros, Connie Junghans-Minton e Matthew Harris estão produzindo um livro. Segundo eles, há obstáculos significativos, especialmente técnicos, como o financiamento, devido à complexidade das múltiplas fontes que sustentam o NHS. "Culturalmente, também estamos apenas aprendendo a olhar para os países do Sul Global e a aprender com eles", afirma Harris.

No Brasil, a confiança no SUS como modelo de referência internacional é reafirmada. Para Jatobá, o SUS segue sendo o maior sistema de saúde do mundo. “Quem diz que o SUS não funciona, está mal-informado ou mal-intencionado".

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