CEE-Fiocruz recebe pesquisadores da universidade de Aveiro em prol do fortalecimento de sistemas de saúde resilientes
Os pesquisadores do projeto integrado Tecnologia, Informação e Resiliência em Saúde Pública (ResiliSUS), do CEE-Fiocruz, receberam em 4/5/2023, no Centro, o Grupo de Pesquisa em Governança, Competitividade e Políticas Públicas (Govcop) da Universidade de Aveiro, Portugal. O objetivo do encontro foi desenvolver parcerias e fortalecer a atuação estratégica em prol de sistemas de saúde resilientes que estejam preparados para agir em momentos que exigem reação rápida.
Coordenado pelo pesquisador Alessandro Jatobá, do CEE-Fiocruz, o encontro contou com a participação dos pesquisadores Hugo Cesar Bellas, Paula de Castro Nunes, Jaqueline Vianna e Paulo Victor Rodrigues, do Centro de Estudos; Nilson do Rosário, Marcelo Rasga e Paulo Roberto Fagundes da Silva, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz); Augusto Raupp do Instituto Nacional de Tecnologia (INT) e ex-presidente da Faperj; e João Lourenço Marques Rui Lopes e Pedro Almeida, da Universidade de Aveiro.
Na reunião, os grupos apresentaram seus projetos e estudos e destacaram a importância de se traçarem caminhos que auxiliem na tomada de decisão com foco em uma visão de futuro. Alessandro Jatobá fez uma apresentação do Centro de Estudos Estratégicos e das pesquisas do grupo ResiliSUS e lembrou, em sua exposição, do criador do Centro, o sanitarista Antonio Ivo de Carvalho. “Ele funda o Centro de Estudos com a missão de organizar o pensamento estratégico da Fiocruz, para o enfrentamento dos desafios em âmbito nacional e para pensar a Fiocruz do futuro, como um think tank, isto é, para produzir e disseminar conhecimento”, resgatou Jatobá, emocionado.
O pesquisador apontou, ainda, os principais eixos norteadores do CEE-Fiocruz, citando quatro pontos estruturantes: pensar o futuro da saúde e do SUS; as transformações produtivas da inovação e do CEIS 4.0; a geopolítica da CT&I em Saúde/ e o futuro da ciência e as novas formas de conhecimento.
De acordo com o coordenador do ResiliSUS, o Complexo Econômico Industrial da Saúde sempre esteve no âmago do CEE-Fiocruz, e hoje está de forma ainda mais explícita. “Esse eixo fortalece, inclusive, o elo entre o CEE e a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, liderada atualmente pelo coordenador científico do Centro de Estudos, Carlos Gadelha”, pontuou.
Ao abordar o projeto ResiliSUS – um dos dez projetos integrados do CEE-Fiocruz –, Jatobá destacou o objetivo de desenvolver tecnologia de gestão para tornar o SUS mais resiliente a eventos futuros. “É preciso estarmos sempre preparados para eventos inesperados, porque, inevitavelmente, vão acontecer em maior ou menor intensidade”, explicou, enfatizando que “é isso que significa ser resiliente”.
Jatobá observou, ainda, que a resiliência é um atributo cotidiano e que não basta o sistema ser apenas capaz de se recuperar de um evento inesperado, tendo em vista que é preciso levar em conta um conjunto de serviços regulares que não podem ser paralisados diante disso. Nesse sentido, explicou, o ResiliSUS busca desenvolver tecnologias não apenas computacionais, mas de gestão que “possam efetivamente fortalecer esse atributo, para ocasiões que exijam reação rápida”.
Ao apresentar um dos projetos que leva à frente, o pesquisador Nilson do Rosário chamou atenção para importância do potencial da mineração de dados para tomada de decisão e destacou a eficiência de Portugal que, em 2022, utilizava 84% dos seus indicadores para avaliar seu sistema de cuidados primários. De acordo com Nilson, “se conseguíssemos chegar a pelo menos 20% da informação produzida para influenciar o processo decisório na gestão da saúde do país, já seria um salto imenso”.
Ao reafirmar que transformar dados científicos em objeto de gestão dos tomadores de decisão “é o caminho”, o pesquisador explicou: “Nossa tarefa é criar condições de mineração desses dados e releitura para oferecer aos gestores uma visão mais específica da ciência e da informação para tomada de decisão, para o SUS e para o uso cotidiano na gestão”.
Nilson também destacou os desafios a serem enfrentados em prol de maior efetividade das políticas, a partir das bases de dados disponíveis no país. “Temos um banco de dados poderosíssimo, atualizado, que cobre nacionalmente os municípios, mas praticamos apenas 7% dos indicadores, muito pelo nível de resistência e excitação dos governadores, dos gestores, e etc.”, contabilizou. Para o pesquisador, “ter uma informação ‘proativa’ que mobilize, parcerias é o grande desafio”, em prol de “parcerias efetivas com a gestão pública”.
Em consonância com as apresentações, o pesquisador português da Universidade de Aveiro João Lourenço destacou em sua exposição a relevância da divulgação e aprofundamento do conhecimento produzido em instituições e grupos de pesquisas para subsidiar as tomadas de decisões. “Precisamos trabalhar para auxiliar os sistemas”, considerou.
De acordo com João, a ciência de dados é riquíssima e pode ser um meio para pensar as resoluções de futuro. Para ele, é fundamental implantar e consolidar uma rede que englobe pós-graduação e pesquisa de abrangência nacional e internacional e que permita capacitar recursos humanos para a realização de cursos, seminários, treinamentos, intercâmbios e investigação conjunta sobre temas relacionados às políticas públicas e ciência de dados. Ele alertou, no entanto, que, embora importante, “a ciência de dados, não substitui a tomada de decisão pública”, sendo ela um importante “meio e não um fim”.
O encontro apontou para a realização de um acordo de cooperação entre os pesquisadores do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Aveiro e os pesquisadores do grupo ResiliSUS do CEE-Fiocruz. Segundo Jatobá, há forte interesse em um intercâmbio que promova a troca de conhecimento entre pesquisadores dos dois grupos de pesquisa. “Isso deve fortalecer as cooperações e atuar como elemento estratégico entre Fiocruz e Portugal”, considerou o pesquisador do CEE.