Artigo científico de pesquisadores do CEE discute os desafios da incorporação de novas biotecnologias de diagnóstico e tratamento de câncer no Brasil
Grupo de pesquisa do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz publicou, nos Cadernos de Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP- Fundação Oswaldo Cruz), vol. 38 de 2022, o artigo Desafios atuais e futuros do uso da medicina de precisão no acesso ao diagnóstico e tratamento de câncer no Brasil. O texto traz uma reflexão sobre a situação atual e futura da incorporação de novas biotecnologias de diagnóstico e tratamento de câncer no Brasil, feita a partir de um levantamento da literatura sobre o tema e dos resultados do estudo Futuro das Tecnologias de Diagnóstico e Tratamento do Câncer no Brasil 2019/2049 (FTDTC), realizado pelo grupo, liderado pelos pesquisadores José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde, e Luiz Antônio Santini, ex-diretor do Instituto Nacional do Câncer (INCA).
Por meio de uma websurvey, o estudo buscou conhecer as percepções e as expectativas de especialistas médicos da área oncológica brasileira dos setores público e privado sobre o acesso da população às novas tecnologias, assim como sobre suas reais possibilidades de incorporação em um horizonte temporal arbitrado em 30 anos. Integrantes das dez sociedades oncológicas mais representativas do país foram entrevistados.
A ideia da pesquisa partiu das considerações do grupo sobre os resultados de outro estudo, realizado pela mesma equipe, a respeito das percepções de pesquisadores da área quanto às tecnologias do futuro voltadas ao diagnóstico e ao tratamento do câncer, mas dessa vez no cenário internacional. Esse primeiro estudo apontou, por exemplo, que a entrada de tais inovações tecnológicas no mercado mundial, e nos países de baixa e média renda em particular, sofre de incertezas, especialmente quanto aos custos de produção, desenvolvimento, disponibilidade e dificuldades econômicas para a sua incorporação pelos sistemas de saúde.
Já entre os resultados do estudo feito no âmbito nacional, ficou evidenciada uma avaliação não muito otimista dos respondentes quanto ao atual acesso ao diagnóstico e tratamento de câncer, principalmente no SUS. E uma perspectiva também não tão otimista entre os profissionais do nosso sistema público de saúde de que o advento dessas novas tecnologias trará melhorias no acesso ao diagnóstico e tratamento do câncer no SUS. A previsão é mais otimista na percepção do setor da saúde suplementar.
A partir da problematização da literatura sobre o tema e dos resultados do estudo FTDTC, os pesquisadores pontuaram algumas considerações no artigo, visando contribuir com o planejamento do futuro da atenção ao câncer no Brasil. Entre elas foi sublinhado que se deve proporcionar meios para o fortalecimento das dimensões industrial, científica, tecnológica e de inovação, visando o fortalecimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS) e a redução da dependência de tecnologias estratégicas.
Os autores ressaltaram, ainda, a importância da qualificação da Estratégia Saúde da Família (ESF) nos aspectos de promoção, prevenção, diagnóstico precoce e acompanhamento da linha de cuidado do paciente, incluindo os cuidados paliativos.