OMS aponta aumento da carga global de câncer, devido à necessidade crescente de serviços de atenção
Da Organização Mundial da Saúde *
A Agência Internacional de Investigação sobre o Câncer (Iarc) da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou (1º/2/2024) inquérito destacando a crescente carga da doença em nível global, com impacto desproporcional nas populações mal atendidas e alertando para a “necessidade urgente” de se prestar atenção às desigualdades no acesso ao cuidado em todo o mundo. A OMS publicou resultados de pesquisas realizadas em 115 países, mostrando que a maioria deles não financia adequadamente serviços prioritários de atenção ao câncer e cuidados paliativos como parte da cobertura universal de saúde (UHC, na sigla em inglês).
Os dados divulgados pela Iarc, baseados nas fontes disponíveis nos países em 2022, apontaram o surgimento de cerca de 20 milhões de novos casos de câncer e 9,7 milhões de mortes. O número estimado de pessoas que estavam vivas nos cinco anos seguintes ao diagnóstico de câncer foi de 53,5 milhões. Conforme observado, ainda, cerca de uma em cada cinco pessoas desenvolve câncer durante a vida e, aproximadamente, um em nove homens e uma em 12 mulheres morrem da doença.
O inquérito global da OMS mostrou que apenas 39% dos países participantes da pesquisa cobriram os princípios básicos da gestão da doença como parte dos seus serviços básicos de saúde financiados para todos os cidadãos – pacotes de benefícios de saúde. Apenas 28% dos países cobriram adicionalmente cuidados paliativos.
Câncer de pulmão, mama e colorretal foram os três principais tipos de câncer identificados em 2022
De acordo com o Observatório Global do Câncer da Iarc, dez de 36 tipos de câncer identificados representaram coletivamente cerca de dois terços dos novos casos e mortes mundialmente, em 2022. O câncer de pulmão foi o mais comum em todo o mundo, com 2,5 milhões de novos casos (12,4% do total de novos casos). O câncer de mama feminino ficou em segundo lugar (2,3 milhões de casos, 11,6%), seguido pelo câncer colorretal (1,9 milhões de casos, 9,6%), câncer de próstata (1,5 milhões de casos, 7,3%) e câncer de estômago (970 mil casos, 4,9%).
O câncer de pulmão foi a principal causa de morte por câncer (1,8 milhões de mortes, 18,7% do total de mortes por câncer), seguido pelo câncer colorretal (900 mil mortes, 9,3%), câncer de fígado (760 mil mortes, 7,8%), câncer de mama (670 mil mortes, 6,9%) e câncer de estômago (660 mil, 6,8%). O ressurgimento do câncer de pulmão como o mais comum está provavelmente relacionado ao consumo persistente de tabaco na Ásia.
Foram identificadas algumas diferenças por sexo na incidência e mortalidade, em relação ao total global para ambos os sexos. Para as mulheres, o câncer mais comumente diagnosticado e a principal causa de morte por câncer foi o de mama, enquanto, nos homens, foi o de pulmão. O câncer da mama foi o mais comum nas mulheres na grande maioria dos países (157 de 185).
Para os homens, os cânceres de próstata e colorretal foram o segundo e o terceiro mais comuns, enquanto os de fígado e colorretal foram a segunda e a terceira causas mais comuns de morte por câncer. Para as mulheres, o câncer de pulmão e colorretal ficaram em segundo e terceiro lugar, tanto em número de novos casos quanto em número de mortes.
O câncer de colo de útero foi o oitavo mais comum em nível mundial e a nona principal causa de morte por câncer, sendo responsável por 661.044 novos casos e 348.186 mortes. É o mais comum em mulheres em 25 países, em especial, na África Subsariana. Mesmo reconhecendo níveis de incidência variáveis, esse tipo de câncer pode ser eliminado como problema de saúde pública, intensificando-se a Iniciativa da OMS para a Eliminação do Câncer de Colo de Útero.
A impressionante desigualdade do câncer por Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
As estimativas globais revelam desigualdades marcantes na carga da doença, de acordo com o desenvolvimento humano. Isso se verifica particularmente para o câncer de mama. Em países com IDH muito elevado, uma em cada 12 mulheres será diagnosticada com câncer de mama durante a sua vida e uma em 71 mulheres morrerá da doença. Pelo contrário, em países com IDH baixo, embora apenas uma em cada 27 mulheres seja diagnosticada com câncer de mama durante a vida, uma em cada 48 mulheres morrerá por causa disso.
Carga de câncer aumentará em 2050: mais de 35 milhões de novos casos
Estão previstos mais de 35 milhões de novos casos de câncer em 2050, aumento de 77% em relação aos 20 milhões estimados em 2022, informa a OMS. O rápido crescimento da carga global da doença reflete o envelhecimento e o crescimento da população, bem como as alterações na exposição das pessoas a fatores de risco, vários dos quais associados ao desenvolvimento socioeconômico. O tabaco, o álcool e a obesidade são considerados “fatores-chave” por trás desses dados, ao lado da poluição atmosférica, no que diz respeito a riscos ambientais.
É esperado que os países com IDH elevado registrem maior aumento absoluto na incidência de câncer, com 4,8 milhões de novos casos adicionais previstos em 2050, em comparação com as estimativas de 2022. No entanto, aponta ainda a OMS, o aumento proporcional da incidência é mais impressionante nos países com IDH baixo (aumento de 142%) e nos países com IDH médio (99%). Da mesma forma, prevê-se que a mortalidade por câncer nesses países quase duplique em 2050.
“O impacto do aumento não será sentido de forma uniforme nos países com diferentes níveis de IDH. Aqueles que têm menos recursos para gerir a carga da doença terão maior impacto da carga fardo global de câncer”, observa o chefe da Secção de Vigilância de Câncer da Iarc, Freddie Bray.
“Apesar dos progressos realizados na detecção precoce do câncer e no tratamento e cuidados aos pacientes oncológicos, existem disparidades significativas nos resultados do tratamento, não apenas entre regiões de alto e baixo rendimento no mundo, mas dentro dos países. Existem ferramentas para permitir que os governos priorizem os cuidados oncológicos e para garantir que todos tenham acesso a serviços de qualidade e a preços acessíveis. Essa não é apenas uma questão de recursos, mas uma questão de vontade política”, afirma Cary Adams, chefe da União Internacional para o Controle do Câncer (UICC).
* Divulgado em 1º/2/2024, em inglês, pela OMS.