Combate à epidemia de H1N1: um histórico de sucesso
Em março de 2009, autoridades sanitárias mexicanas identificaram um surto causado pelo H1N1 - uma nova cepa do vírus Influenza A, responsável por causar pandemia de gripe espanhola que assolou o mundo entre os anos de 1918 e 1920. A doença foi designada como "gripe A", "gripe mexicana" ou "gripe suína" (por conter ARN típico de vírus suínos). O surto logo evoluiu para epidemia e começou a se espalhar pelo mundo, atingindo sobretudo a América do Norte, a Europa e a Oceania. Em abril de 2009, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a epidemia como "emergência de saúde pública de âmbito internacional". Dois meses depois, com a doença se espalhando por 75 países em todos os continentes, a OMS decretou estado de pandemia. A doença chegou ao Brasil em maio de 2009, concentrando-se a princípio nas regiões Sul e Sudeste, mas logo se espalhou pelo país.
As primeiras vacinas começaram a ser desenvolvidas no segundo semestre de 2009. Nesse mesmo ano, o presidente Lula liberou 2,1 bilhões de reais para aquisição de vacinas, insumos, material de diagnóstico, equipamentos de hospitalização e ampliação dos leitos de UTI, além de determinar a ampliação dos turnos nas unidades de saúde. Para garantir o acesso do país aos imunizantes, o governo Lula fechou parcerias com três laboratórios - Glaxo Smith Kline, SANOFI Pasteur e Novartis. Em colaboração com o governo paulista, o governo federal fez um acordo de licenciamento e transferência de tecnologia da vacina SANOFI Pasteur, que passaria a ser produzida pelo Instituto Butantan, com subvenção do Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde. Ao todo, o governo federal adquiriu 83 milhões de doses da vacina contra H1N1.
Também com dotação extra do governo federal, a Fiocruz triplicou a produção do medicamento utilizado para o tratamento da H1N1 (derivado do princípio ativo do Tamiflu) e conseguiu produzir um kit nacional para diagnóstico da doença a um custo 55% menor em relação aos similares importados, o que permitiu estabelecer uma estratégia de testagem em massa das pessoas com sintomas da gripe. Em fevereiro de 2010, o ministro da saúde, José Gomes Temporão, divulgou a Estratégia Nacional de Vacinação Contra a Gripe H1N1, com a definição do calendário, dos grupos prioritários e das etapas.
Por intermédio do SUS, os estados receberam 1,9 milhão de kits para o tratamento da gripe H1N1, produzidos pela Fiocruz - quantidade suficiente para tratar 38 vezes o número total de casos graves registrados no ano anterior (48.978 pessoas). Meio milhão desses kits foram encaminhados para a rede Farmácia Popular e o Ministério da Saúde manteve pronto um estoque de 20 milhões de kits para serem utilizados no caso da pandemia atingir o pior cenário possível. O governo federal também iniciou uma campanha para desmentir boatos sobre a presença de níveis tóxicos de mercúrio na vacina e rebater a falsa alegação de que o imunizante causava a Síndrome de Guillain-Barré.
Em março de 2010, o governo federal iniciou a campanha de vacinação. Em apenas três meses, utilizando as vacinas adquiridas e os novos lotes fabricados pelo Instituto Butantan, o Brasil conseguiu vacinar 92 milhões de pessoas, ultrapassando com ampla margem a meta em relação ao público alvo. O governo federal esperava vacinar 80% dos grupos prioritários, mas conseguiu chegar a 88%. O sucesso deve-se ao esforço de mobilização e à estratégia de multiplicar os pontos de vacinação, englobando unidades de saúde, escolas, repartições públicas, locais de trabalho e até mesmo vias públicas.
O Brasil foi o país que mais vacinou em relação ao percentual da população total: 42% da população brasileira foi imunizada, índice superior ao registrado, por exemplo, nos Estados Unidos (26%), México (24%), Suíça (17%), Argentina (13%), França (8%) e Alemanha (6%). Até o momento, a campanha brasileira contra o H1N1 em 2010 foi a maior campanha de vacinação em massa do século XXI. A rápida ação do poder público foi essencial para debelar a pandemia e mantê-la sob controle. O Brasil registrou quase 60.000 casos da doença e 2.146 mortes em 2009. Em 2010, o número de mortes caiu para cerca de 100. A vacina contra a gripe H1N1 é aplicada anualmente pela rede pública desde então e 100% das doses são produzidas pelo Instituto Butantan.
* Texto publicado na página Pensar a História do Facebook, em 23/01/2021.
Referências:
"Brasil ultrapassa meta ao vacinar mais de 81 milhões de pessoas contra a gripe H1N1". UOL: https://www.uol.com.br/.../brasil-ultrapassa-meta-ao...
"O enfrentamento do Brasil diante do risco de uma pandemia de influenza pelo vírus A (H1N1)". José Gomes Temporão: http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext...
"Sob governo Lula, Brasil foi o país que mais vacinou contra H1N1 pelo sistema público". Brasil de Fato: https://www.brasildefato.com.br/.../sob-governo-lula...
"Como o Brasil foi afetado pela pandemia de H1N1, a 1ª do século 21?". BBC News: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-52042879
"Governo libera R$ 2,1 bilhões para compra de 73 milhões de doses da vacina". G1: http://g1.globo.com/.../0,,MUL1281744-5603,00-GOVERNO...
"Brasil triplica distribuição de remédio contra a gripe suína". Folha de S. Paulo: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff3107200905.htm
"Ministério lança tecnologia para diagnosticar vírus H1N1". Fiocruz: https://portal.fiocruz.br/.../ministerio-lanca-tecnologia...
"Farmácia Popular oferece remédio contra gripe H1N1". Fiocruz: https://portal.fiocruz.br/.../farmacia-popular-oferece...
"Governo compra 83 milhões de doses de vacina contra gripe suína". O Globo: https://oglobo.globo.com/.../governo-compra-83-milhoes-de...