Especialistas analisam papel da comunicação no controle do câncer

Especialistas analisam papel da comunicação no controle do câncer

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O papel central da comunicação no controle do câncer foi tema dos comentários ao CEE Podcast do oncologista Carlos José Andrade, do Instituto Nacional do Câncer (Inca), da médica cardiologista Alessandra Siqueira, coordenadora de ensino do Inca, e da líder do grupo de Redes e Saúde Global do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), Bruna Fonseca, após a terceira oficina do projeto integrado Doenças Crônicas e Sistemas de Saúde – Futuro das Tecnologias de Diagnóstico e Tratamento do Câncer (FTDTC), do CEE-Fiocruz, em 9/4/2025. As oficinas vêm reunindo integrantes do comitê científico formado para preparação do Seminário Acesso equitativo às tecnologias e inovações oncológicas: desafios, expectativas e perspectivas, que será realizado pelo CEE nos dias 27 e 28 de novembro/2025.

Sob a coordenação do ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão e do ex-diretor do Inca Luiz Antonio Santini, ambos à frente do projeto FTDTC, os especialistas debateram os desafios que envolvem o controle do câncer em nível nacional e global, em especial, as formas de fortalecer a Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer (PNPCC), a prevenção e a ampliação do acesso a tecnologias de diagnóstico e tratamento do câncer.

Bruna Fonseca: Comunicação para melhoria do acesso 

Em seu comentário ao CEE Podcast, Bruna Fonseca destacou a importância do fortalecimento da comunicação em todas as esferas, sobretudo, na relação entre profissionais e pacientes, especialmente por sermos, ainda, um país extremante marcado por desigualdades sociais e regionais. “Precisamos apoiar a navegação do usuário ao sistema de saúde e informar, por exemplo, sobre os direitos do paciente, os protocolos de encaminhamento, e os locais de atendimento”, pontuou Bruna.

Para a pesquisadora, fortalecer a comunicação entre profissionais e pacientes é superimportante e estratégico, e pode refletir na qualidade do diagnóstico, na adesão ao tratamento, e na compreensão do prognóstico do paciente. 

Além disso, Bruna avaliou, a necessidade de capacitação profissional permanente para o agente de saúde possa lidar com o paciente por meio de uma comunicação acessível e empática, melhorando os desfechos do paciente. “A boa comunicação é capaz de contribuir na melhoria do acesso à prevenção e no controle do câncer”, avalia.

Alessandra Siqueira: Comunicação para transformar

A ênfase na importância de informar e comunicar de forma adequada, com base em evidências, com vistas a transformar, de fato, a vida das pessoas pautou as intervenções da médica cardiologista Alessandra Siqueira, coordenadora de ensino do Instituto Nacional do Câncer (Inca) durante a oficina. “Sou médica de formação e observo que, há muitos anos, a forma com que nos comunicamos não faz com que as pessoas modifiquem sua forma de agir”, avalia Alessandra em seu comentário ao CEE Podcast. “Apesar de milhares de pessoas saberem que o cigarro causa câncer, não conseguimos fazer com que elas parem de fumar”, exemplifica. “Precisamos comunicar diferente”, afirma.

Como observa a médica, “a comunicação é uma tradução de conhecimento”, que deve alcançar não só os consultórios, na relação médico-paciente, como as diferentes políticas na área da saúde. “Como comunicar que aquela política vai promover um impacto e uma transformação?”, indaga, defendendo uma transformação, pela comunicação, nos níveis individual e coletivo e entre os gestores.

Carlos José Andrade: Comunicação em toda jornada do paciente

Carlos José, oncologista clínico do Inca, fundador da plataforma Lila, voltada à conexão de equipes de saúde e pacientes oncológicos, enfatizou o papel da comunicação em todos os estágios do cuidado ao câncer, desde à prevenção, diagnóstico e tratamento até o fim da vida. “A comunicação é um elemento central no relacionamento entre quem busca o cuidado e quem oferece. E isso se dá ao longo de toda a jornada do paciente”.

Durante o tratamento, por exemplo, o pesquisador destaca a importância do patient-reported outcome, que é o relato do sintoma na perspectiva do paciente, daquilo que o incomoda, na intensidade que ele interpreta. “Se isso chega até a equipe de saúde, pode-se dar um suporte melhor e evitar o agravamento dos sintomas, inclusive melhorar os desfechos de sobrevida, reduzir a ida desse paciente à emergência e melhorar a qualidade de vida dele”, pontuou.