Soberania sanitária e a próxima crise da saúde global
A urgência em se reduzir a dependência brasileira de importações e melhorar o acesso a antibióticos eficazes e acessíveis foi de artigo do ex-ministro José Gomes Temporão, pesquisador do CEE-Fiocruz, publicado no jornal Valor Econômico, em 14/4/2025. No texto, Temporão menciona o anúncio da nova vacina contra a dengue, do Instituto Butantan (Butantan-DV), como demonstração da importância do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS) e de como o mercado interno “pode desempenhar papel estratégico no desenvolvimento nacional e no fortalecimento do SUS”. Conforme observa o ex-ministro, trata-se de um modelo que conjuga inovação, uso do poder de compra do Estado e parcerias entre laboratórios públicos e empresas privadas e que pode, e deve, ser usado também para desenvolver e produzir outras tecnologias para a saúde, como os antibióticos.
Integrante do Conselho de Administração da organização suíça Parceria Global de Pesquisa e Desenvolvimento de Antibióticos (Gardp, na sigla em inglês), Temporão observa que a resistência a medicamentos é uma das doenças mais letais no mundo e está associada a quase 5 milhões de mortes por ano. “E pesquisas recentes sugerem que a crise global de resistência aos antimicrobianos (RAM) chegou a um ponto crítico". A expectativa do projeto Global Research on Antimicrobial Resistance (Gram), destaca, é que o número de mortes por RAM aumente em 70% até 2050.
“É por isso que o Brasil precisa reduzir urgentemente sua dependência de importações e melhorar o acesso a antibióticos eficazes e acessíveis, novos e existentes. A política de fortalecimento do CEIS pode nos ajudar nesse sentido”, considera, defendendo que o Brasil tem “tudo à disposição” para enfrentar os desafios dessa caminhada. Como exemplo, Temporão destaca o fato de o país contar com o maior setor farmacêutico da América Latina e do Caribe – e um dos maiores do mundo –, podendo alcançar capacidade produtiva não apenas para formular seus próprios antibióticos, mas também para fabricar os insumos farmacêuticos ativos (IFA). Ele cita também o tamanho da população brasileira, como mais um diferencial. “Com mais de 210 milhões de cidadãos – com grande variabilidade genética e perfis sociodemográficos – em um território diverso e continental e carga relativamente alta de doenças relacionadas à RAM, é possível realizar estudos clínicos de saúde pública em populações relevantes”, explica.
Para Temporão, o CEIS tem potencial, por meio das parcerias para o desenvolvimento produtivo (PDPs) e da Política para o Desenvolvimento de Inovação Local (PDIL), de garantir o desenvolvimento dos antibióticos mais necessários, enquanto promove produção nacional e acesso equitativo.