Paulo Amarante: é preciso mudar a forma como a sociedade lida com o diferente

Paulo Amarante: é preciso mudar a forma como a sociedade lida com o diferente

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Em agosto de 2017, o Uruguai aprovou a Ley de Salud Mental, pela qual compromete-se a fechar os hospitais psiquiátricos até 2025 e criar um novo sistema de assistência. A experiência brasileira da Reforma Psiquiátrica, que em 20 anos eliminou 60 mil leitos manicomiais e criou uma rede de centros de atenção psicossocial em nível local, foi discutida no país, durante o Segundo Seminário Internacional Desafios da Saúde Mental, realizado em Montevidéu, e que teve como professor convidado o sanitarista Paulo Amarante, pesquisador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Laps) da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz).

Em entrevista ao inovador jornal uruguaio La Diaria, em 17/8/2018, após sua participação no seminário, Paulo, que também é presidente honoris causa da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme), explicou que o mais importante não é o fechamento dos manicômios, nem a mudança no modelo de assistência, e sim mudar a forma como a sociedade pensa e lida com o diferente.

“Mais que uma reforma do modelo de atenção, é necessário mudar as relações sociais com as pessoas chamadas de loucas, diferentes”, disse ao jornal. “Para trabalhar a mudança na sociedade, explicou, é preciso primeiro trabalhar no nível do discurso, dos conceitos e concepções. Não falar mais da loucura relacionada com a irracionalidade ou o perigo. Em segundo lugar, incluir os pacientes e atividades sociais e culturais, integrando-os”.

Ele citou estudo realizado na Itália, que mostrou que as experiências comunitárias, alternativas, custam menos que os manicômios, pois as grandes estruturas institucionais são muito caras. “Os serviços locais são menores mas mais numerosos, trabalha-se muito com voluntários, estudantes, familiares e os próprios pacientes oferecem ajuda mútua. Um trabalho mais dinâmico e menos centrado na estrutura tradicional”, observou, recomendando que os serviços sejam mais próximos de onde vive a pessoa, para que possa frequentar diariamente e voltar para casa.

Na prática, explicou o sanitarista, as crises são curtas – por isso se chamam crises. Não duram décadas. “Há necessidade de um serviço de crise que atenda uma situação que pode durar uma noite ou poucos dias. A ideia é não institucionalizar a pessoa. Fazemos isso nos Centros de Atenção Psicossocial, que não têm mais do que dez leitos”.

Paulo abordou também o tema da patologização e sobremedicalização. “Um problema que preocupa é o uso indiscriminado de antidepressivos, que segundo a Organização Mundial da Saúde é mais importante que a depressão em si. A psiquiatria está quase totalmente financiada pela indústria farmacêutica”, comentou.

Leia a íntegra da entrevista (em espanhol)

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