Mapeamento aponta que Brasil devastou um terço de suas áreas naturais
A perda acumulada de áreas naturais nos últimos 39 anos foi de 13% do território brasileiro; extensão e rapidez da devastação elevam risco climático no Brasil
Um novo levantamento divulgado ontem (21/8) pelo MapBiomas mostrou que a perda histórica de áreas naturais no Brasil já representa pelo menos 33% do território nacional. As perdas impressionam, mas a velocidade que ela adquiriu desde 1985 é ainda mais surpreendente: 13% do território nacional teve suas áreas naturais devastadas em quase quatro décadas.
De 1985 até 2023, o déficit de áreas naturais foi de 110 milhões de hectares, sendo que a Amazônia concentrou sozinha metade desse total. Segundo o MapBiomas, cerca de 280 milhões de hectares do território brasileiro foram modificados pela ação humana, sendo que 39% dessas mudanças ocorreram nos últimos 39 anos.
O MapBiomas considera áreas naturais como vegetação nativa, superfície de água e áreas naturais não vegetadas, como praias e dunas. De acordo com o levantamento, as áreas mais preservadas estão nas Terras Indígenas, que abrangem 13% do território brasileiro e registraram apenas 1% de vegetação nativa suprimida desde 1985. Por outro lado, a perda nas propriedades privadas nesse mesmo período foi de 28%.
O MapBiomas apresentou também um balanço da vegetação nativa nos municípios brasileiros a partir de 2008, quando foi instituído o Fundo Amazônia e editado o Decreto nº 6.514, que conferiu efetividade ao Código Florestal então vigente ao estabelecer multas para os casos de descumprimentos de suas regras.
No âmbito nacional, 18% dos municípios tiveram estabilidade entre 2008 e 2023, com ganhos ou perdas de vegetação menores que 2%. Já em outros 37% dos municípios, observou-se ganho de vegetação nativa, sendo que mais da metade está localizado na Mata Atlântica. Por outro lado, 45% dos municípios perderam vegetação nativa de forma acentuada nesse período, com a maior perda proporcional no Pampa (35%).
Os estados com maior proporção de municípios com perda de vegetação são Rondônia (96%), Tocantins (96%) e Maranhão (93%). Na outra ponta, os estados com maior proporção de municípios com ganho de vegetação são Paraná (76%), Rio de Janeiro (76%) e São Paulo (72%).
“A perda da vegetação nativa nos biomas brasileiros tende a impactar negativamente a dinâmica do clima regional e diminui o efeito protetor durante eventos climáticos extremos”, explicou Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas. “Em síntese, representa aumento dos riscos climáticos. Parte significativa dos municípios brasileiros ainda perde vegetação nativa; mas, por outro lado, quase 1/3 deles está recuperando essas áreas.
O levantamento trouxe dados inéditos sobre o avanço das áreas antrópicas no território nacional em diferentes declividades. Na zona rural, as áreas mais planas, com declividades entre 0% a 3% e 3% a 8%, têm proporcionalmente as maiores perdas de vegetação nativa (-20% e -19%, respectivamente).
Já nas áreas urbanas, as maiores perdas (-3% ao ano) ocorreram nas áreas de encosta, cuja declividade é superior a 30%. Esse dado torna ainda mais evidente o risco da ocupação das áreas de encosta nas cidades, particularmente expostas a eventos climáticos extremos, como chuvas intensas que causam deslizamentos de terra e inundações.
“A expansão urbana em áreas mais declivosas em um contexto de mudanças climáticas, como de extremos chuvosos, aumenta o risco de desastres e coloca em perigo a população”, destacou Mayumi Hirye, da equipe das áreas urbanas do MapBiomas.