Envelhecimento da população: Um futuro inescapável
O século 21 é um século de envelhecimento populacional sem precedentes, com suas consequências econômicas, sociais e políticas repercutindo em todos os países do mundo, escreve o demógrafo Joseph Chamie, em artigo publicado no site da agência de notícias IPS (Inter Press Service), em 5/1/2022. Conforme afirma o autor, o envelhecimento da população humana é “um futuro demográfico inevitável”, que desafia governos e público, mal preparados para esse cenário certo e muito diferente do que se configurou no século 20, caracterizado por rápido crescimento populacional e no qual a população mundial quase quadruplicou.
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Atividades econômicas, investimentos, impostos, orçamentos, forças de trabalho, política, defesa, educação, habitação, estruturas familiares, transporte, recreação, aposentadoria, saúde são aspectos fundamentais da vida humana afetados pelo envelhecimento populacional, que está ocorrendo em ritmo mais acelerado, resultado de menores taxas de natalidade e do aumento da longevidade, observa Chamie, ex-diretor da Divisão de População das Nações Unidas e autor de várias publicações sobre questões populacionais – entre eles, o livro mais recente, Births, Deaths, Migrations and Other Important Population Matters (Nascimentos, mortes, migrações e outras importantes questões populacionais).
“Enquanto na década de 1960 a taxa de fertilidade total mundial e a expectativa de vida ao nascer eram, respectivamente, cinco nascimentos por mulher e 50 anos, os níveis atuais são de 2,4 nascimentos por mulher e 73 anos”.
Além disso, contabiliza ainda Chamie, na década de 1960, por exemplo, a idade média da população mundial era de 22 anos e a proporção de pessoas com 65 anos ou mais era de 5%; hoje, a idade média aumentou para 32 anos e os idosos representam 10% da população mundial, e a proporção de idosos com 80 anos ou mais triplicou desde 1960. O número de centenários deverá mais do que quintuplicar nos próximos trinta anos, passando de aproximadamente 600 mil hoje para 3,2 milhões em meados do século.
De acordo com o demógrafo, é esperado que quase todos os países do G20 – que, juntos, respondem por mais de 80% do PIB mundial, 75% do comércio global e 60% da população mundial – tenham pelo menos um quarto de suas populações com 65 anos e mais, até 2100, sendo que em alguns deles – Brasil, China, França, Alemanha, Itália, Japão e República da Coréia – esse índice deverá ser de um terço ou mais.
O cenário já impõe desafios aos países, em especial, devido ao declínio relativo dos trabalhadores que pagam impostos e contribuem para os sistemas de aposentadoria, ao mesmo tempo em que aumenta o número de aposentados. “Muitos países estão enfrentando escolhas difíceis”, observa Chamie. “Com o objetivo de evitar reformas orçamentárias controversas e aumentos de impostos impopulares, alguns governos estão reduzindo despesas e direitos para os idosos e transferindo mais custos de apoio, assistência e serviços de saúde para o indivíduo e suas famílias”.
Trata-se de uma situação complexa, tendo em vista que o número de idosos que vivem sozinhos vem aumentando – estes são cerca de 33% entre os países da OCDE, com altas de mais de 40% em alguns países, como Dinamarca, Estônia, Lituânia e Suécia, destaca o demógrafo.
Para Chamie, o envelhecimento das populações, “especialmente entre as nações militarmente poderosas”, pode contribuir para os esforços de se garantir a paz mundial. “As necessidades, preocupações e perspectivas dos homens e mulheres idosos podem levar a reduções nos gastos militares e aumento nos gastos com benefícios, assistência e cuidados para os idosos”, considera.
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