Enfermagem: um dos pilares das equipes de saúde
Em 2020, celebra-se o Ano Internacional da Enfermagem, com a Campanha Global Nursing Now (Enfermagem Agora), conforme designação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Conselho Internacional de Enfermeiros (CIE). A ideia é valorizar a profissão para melhorar os indicadores vitais de saúde. Os profissionais de enfermagem, aí incluídos enfermeiros, técnicos e auxiliares, representam metade da força de trabalho em saúde no país. O perfil e a importância desses profissionais nas equipes multiprofissionais no Sistema Único de Saúde – ao lado de nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais e fisioterapeutas, entre outros – são destacados pela pesquisadora Maria Helena Machado, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), em entrevista ao blog do CEE-Fiocruz.
“No Brasil a área de saúde é composta de 3,5 milhões de trabalhadores, dos quais cerca de 2 milhões atuam na enfermagem. Estamos falando de profissionais com contingente muito grande dentro do sistema de saúde, que estão em todas as regiões do país e nos acompanham em todas as etapas da vida”, observa Maria Helena, que coordenou a pesquisa Perfil de Enfermagem no Brasil, um levantamento amostral do contingente de enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem em atividade no país, divulgada em 2015, abrangendo aspectos sociodemográficos, formação profissional, acesso à informação técnico-científica, mundo do trabalho e aspectos político-ideológicos. É considerado o mais amplo levantamento sobre uma categoria profissional realizado na América Latina, abrangendo universo de 1,6 milhão de profissionais.
Maria Helena observa que esse estudo foi de grande importância para entender as disparidades entre regiões e subsidiar a construção de políticas públicas adequadas à realidade desses trabalhadores. “Hoje, sabemos exatamente qual o perfil desses profissionais, seja socioeconômico, de formação (médio, técnico ou superior), do acesso à informação científica, da atuação no mercado de trabalho, satisfação e condições de trabalho, bem como sua participação sociopolítica”, destaca Maria Helena.
Outro aspecto importante aponta para o desequilíbrio entre oferta e demanda de profissionais e sua concentração nos grandes centros urbanos. “Há uma escassez de enfermeiros no interior do país e uma abundância nos grandes centros, principalmente no Sudeste”, observa a pesquisadora.
Essa concentração, analisa ela, além de perversa, revela uma disparidade preocupante no que diz respeito à formação da categoria. “A força de trabalho na enfermagem compõe-se de auxiliares, técnicos administrativos e enfermeiros, sendo que esses últimos são apenas 23%”, pontua. A maior parte da categoria compõe-se, assim, de técnicos e auxiliares, e concentrados no interior do país. “Isso prejudica a assistência nessas áreas”.
Maria Helena alerta para precariedade das condições de trabalho dos profissionais, no que se refere a carga horária e remuneração e diz esperar que o ano da celebração da Enfermagem seja a oportunidade para transformação da realidade da categoria. “Espero que seja também o ano da celebração de políticas públicas mais adequadas para categoria e que Conselho Federal de Enfermagem consiga renegociar, discutir e aprovar no Congresso Nacional uma jornada de trabalho menor e um piso salarial mais justo. Hoje os profissionais, a maioria mulheres, possuem jornadas prolongadas, ganhando relativamente salários muito baixos”.
Com o lema Onde há vida, há enfermagem, o Brasil aderiu à campanha global Nursing Now. No país, a iniciativa será encabeçada pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
Acesse o estudo Perfil de Enfermagem no Brasil, realizado pela Fiocruz, por iniciativa do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).
Mais sobre o Ano Internacional da Enfermagem e a campanha Nursing Now aqui e aqui.