Edição temática da revista Ciência & Saúde Coletiva aborda o mundo do trabalho na Saúde em diálogo com pesquisas da Fiocruz

Edição temática da revista Ciência & Saúde Coletiva aborda o mundo do trabalho na Saúde em diálogo com pesquisas da Fiocruz

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Publicação traz o editorial ‘Aprender com a pandemia – e não repetir os erros’, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Três capas replicadas da revista Ciência e Saúde Coletiva com fundo verde e preto e o nome da revista na lateral em letras brancas

 “O que as trabalhadoras e os trabalhadores de saúde passaram durante a pandemia não pode ser esquecido. Precisa ser estudado e ficar registrado. Precisa, sobretudo, servir de ensinamento para que nossas políticas públicas sejam aprimoradas e para que situações como as enfrentadas justamente por aqueles que salvam vidas nunca mais se repitam”. O trecho extraído do editorial assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na recém-lançada edição temática da revista Ciência e Saúde Coletiva, da Abrasco, expressa o teor dos artigos reunidos na publicação.

Já disponível na base Scielo, o volume 28, número 10 da revista, produzida pela Fiocruz em parceria com o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), trata das condições de trabalho e saúde mental dos trabalhadores da saúde no contexto da Covid-19 no Brasil e utiliza, sob ângulos diversos , dados das pesquisas realizadas no âmbito do projeto integrado Mundo do Trabalho e Saúde, um dos nove em curso no CEE-Fiocruz, levado à frente com a Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) e coordenado pela pesquisadora Maria Helena Machado.

“Este número temático amplia o espaço de análise das condições de trabalho dos trabalhadores da saúde que enfrentaram a pandemia de Covid-19 no Brasil. Promove também o diálogo da produção científica com o sólido banco de dados das pesquisas realizadas pela Fiocruz, com apoio institucional do Conselho Nacional de Saúde, do Conass, Conasems, Cofen, confederações sindicais e coorporativas e instituições acadêmicas, uma aliança que permitiu alcançar mais de 40 mil respondentes em todos os estados da federação”, observa, referindo-se aos estudos Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da Covid-19 no Brasil e Trabalhadores invisíveis da saúde: condições de trabalho e saúde mental no contexto da COVID-19 no Brasil.

As pesquisas mostraram que, durante a pandemia, os trabalhadores da saúde enfrentaram situações de escassez de equipamentos de proteção individual (EPIs), infraestrutura precária, péssimas condições de trabalho e precarização das relações trabalhistas, entre outros problemas, impactando-os fortemente, em especial, aqueles mais vulneráveis, que ficaram ainda mais expostos, conforme lembra Maria Helena. “Esses dados nos impõem uma reflexão. O conhecimento transforma a realidade. Esperamos que esse número temático da revista C&SC seja um dos veículos para essa reflexão necessária”.

Transformações no mundo do trabalho, precarização e aspectos jurídicos, biossegurança, infodemia, resiliência do SUS, Complexo da Saúde como espaço estratégico para geração de empregos, bioética e emergências sanitárias, comorbidades e saúde mental, pós-Covid e experiências internacionais na pandemia são alguns dos temas tratados nos artigos. Os textos abrangem a realidade de médicos, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, nutricionistas, cirurgiões dentistas, agentes de saúde, recepcionistas, motoristas de ambulâncias, profissionais de limpeza e de segurança, maqueiros, trabalhadores da cozinha das unidades de saúde, entre outros que estiveram direta e indiretamente à frente dos cuidados à saúde durante a pandemia de Covid-19.

Acesse a íntegra da edição temática Condições de trabalho e saúde mental dos trabalhadores da saúde no contexto da Covid-19 no Brasil da revista Ciência & Saúde Coletiva

 

Leia abaixo o editorial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Aprender com a pandemia – e não repetir os erros

A pandemia da Covid-19 gravou no coração brasileiro um profundo reconhecimento aos trabalhadores e trabalhadoras da saúde.

Em meio a uma avalanche de desinformação sem precedentes, nossos mais de 4 milhões de profissionais de saúde – sendo 3,5 milhões deles ligados diretamente ao Sistema Único de Saúde (SUS) – formaram uma verdadeira barreira de proteção da vida contra o descaso e o negacionismo. E os artigos presentes nessa revista mostram que eles estão entre os que mais sofreram nos anos de pandemia.

Médicos, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas e tantos outros profissionais lidaram com um volume gigantesco de atendimentos – muitas vezes, sem a estrutura de leitos e equipamentos necessários para atender os pacientes. E sem os equipamentos de segurança necessários para protegerem a própria saúde.

Agentes comunitários de saúde, motoristas de ambulâncias, profissionais da limpeza, da segurança ou da cozinha de unidades de saúde compartilharam a mesma carga extenuante de trabalho, os mesmos riscos, e papel igualmente fundamental na defesa da vida.

Em comum a todas essas pessoas, há o cansaço, a tensão e a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, poderiam ser contaminadas – e muitas delas, de fato, contraíram a doença. Há o desgaste físico e psicológico. Há a tristeza pela perda de colegas.

Não bastasse isso, há também o desrespeito dos discursos de ódio gestados na internet contra quem defendeu a ciência, e não contra os objetivos políticos obscuros. E uma condição talvez até mais sofrida: o medo de levar o vírus para o seio de seus lares. A dor de negar um abraço e um carinho aos filhos, aos pais ou à pessoa amada.

O que as trabalhadoras e os trabalhadores de saúde passaram durante a pandemia não pode ser esquecido. Precisa ser estudado e ficar registrado. Precisa, sobretudo, servir de ensinamento para que nossas políticas públicas sejam aprimoradas e para que situações como as enfrentadas justamente por aqueles que salvam vidas nunca mais se repitam.

A verdade é que o Brasil tem todas as condições de fazer isso. O SUS é uma conquista democrática e um exemplo para o mundo, seja pelo seu gigantismo, pela sua organização federativa ou pela sua capacidade de atendimento. Nossa regulação de saúde, assim como nossa regulação trabalhista, é sólida e eficiente. E temos uma sociedade civil forte e organizada, capaz de defender os direitos das categorias profissionais.

Contamos, também, com a ciência. Com pesquisadoras e pesquisadores gerando e registrando o conhecimento, como o que está presente nesta revista. Conhecimento que nos ajudará a saber o que fazer para sempre garantir que todos - inclusive os profissionais da área - possam exercer seu direito à saúde.