Conferência Global de Tecnologia Sustentável e Inovação (G-Stic) debate CT&I como ferramenta para o desenvolvimento e a transformação social
Fiocruz coordena sessão sobre Saúde no evento, em Dubai, com liderança da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030 e participação do CEE
Ciência, tecnologia e inovação para criar resiliência, recuperar o planeta dos impactos da Covid-19 e prepará-lo para enfrentar futuras crises de saúde, inclusive as decorrentes dos problemas ambientais. Esse é o foco da Conferência Global de Tecnologia Sustentável e Inovação G-Stic (Global Sustainable Technology and Inovation Conference), referência internacional no debate que relaciona CT&I e a Agenda 2030, que se realiza em Dubai, de 17 a 19 de janeiro de 2022. Desde a edição de 2019, a Fiocruz participa, por meio da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030, como coorganizadora do evento a convite do G-Stic, ao lado de outras instituições de pesquisa internacionais.
Na edição de 2022, a Fundação ficou responsável por organizar a sessão sobre Saúde com mesas que abordarão temas como soluções tecnológicas para enfrentar crises de saúde e seus impactos; papel das tecnologias ambientais e sociais para aumentar a resiliência a crises globais de saúde; vacinas e tecnologias de diagnóstico; e ferramentas para enfrentamento dedesafios sanitários, reunindo pesquisadores da instituição e de outros organismos e países.
“Temos a Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) como central, hoje, para se pensar qualquer processo no campo de desenvolvimento e transformação social. Mas a CT&I não entrou de forma explícita na Agenda 2030”, analisa Paulo Gadelha, ex-presidente da Fiocruz e coordenador da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030, à frente da organização da sessão sobre Saúde no G-Stic. “Foi no momento em que se começou a discutir os mecanismos de implementação da Agenda, que o Brasil propôs junto com outros países que CT&I fosse considerada como fundamental para atingirmos os ODSs”.
Essa iniciativa, relata Paulo, resultou no procedimento denominado Technological Facility Mechanism (TFM), que aborda a tecnologia sob o olhar da sustentabilidade, no que diz respeito a acessibilidade e a uma articulação entre objetivos sociais, econômicos e ambientais. “A inovação, por mais relevante que seja, não tem a priori um direcionamento ético, social e ambiental, necessariamente voltando-se para bens públicos ou para os objetivos configurados na Agenda 2030. Então, é preciso mecanismos para que a CT&I se dirija para as finalidades do campo da sustentabilidade”, explica o ex-presidente da Fiocruz. “O G-Stic passou a trabalhar nesse referencial, com destaque a tecnologias mais maduras, isto é, que já estão no mercado ou prestes a chegar”.
Paulo Gadelha explica que a atuação da Fiocruz como coorganizadora da Conferência, inicialmente, elaborando eixos temáticas sobre Saúde, resultou em reconhecimento e protagonismo para a área e também para a Fundação. “A Fiocruz pôde se revelar para esse novo campo de articulação de forma plena, naquilo que traz em caráter exemplar: as relações entre CT&I, desenvolvimento e área social, que é nossa matriz e o que dá sentido à trajetória da instituição”, observa.
A sessão de Saúde do G-Stic 2022 mantém a estrutura das edições anteriores ecompõe-se de uma plenária, presidida por Paulo Gadelha, que discutirá a incorporação de tecnologias de saúde no contexto da Agenda 2030 e do combate à pandemia de Covid-19, e por três sessões de aprofundamento (deep dive) em tecnologias de saúde. “A entrada da saúde na Conferência é muito relevante, referência para se pensarem as conexões com o desenvolvimento e a tecnologia”, considera Paulo Gadelha.
Conforme explica, a plenária abrangerá as discussões em curso sobre o enfrentamento daCovid-19 e sobre como direcionar a pesquisa nesse cenário. Entre as sessões de aprofundamento, Paulo destaca a que terá como tema os roadmaps – ferramentas que definem caminhos a serem seguidos e um conjunto de tarefas ordenadas cronologicamente a serem realizadas para a concretização de um projeto – no controle e prevenção defuturas epidemias. “Além de fazer análises, é preciso configurar roteiros de processos, definindo-se o que se quer atingir, em toda sua complexidade, com monitoramento, indicadores”, analisa.
Para o coordenador do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE-Fiocruz), Carlos Gadelha, o G-Stic é um espaço para se pensar a articulação entre inovação, sistemas universais de bem-estar e um novo padrão de desenvolvimento nacional, “marcas essenciais do CEE, em um contexto global que requer colocar tecnologia e inovação a serviço da vida”, conforme define. “Isso reflete a perspectiva de ação estratégica integrada entre a dimensão nacional e a global do desenvolvimento”, analisa Carlos Gadelha, que participará do G-Stic, em 18/1, na mesa Vacinas e tecnologias de diagnóstico em respostas a crises de saúde, moderada por Maurício Zuma, diretor de Bio-Manguinhos. “Na Fiocruz, esse caminho representa uma elevada convergência entre a visão estratégica desenvolvida no CEE, a Agenda 2030 e as recentes orientações estratégicas do Congresso Interno da Fiocruz”, destaca.
Além da sessão sobre Saúde, outras nove sessões temáticas compõem o programa do G-STIC, relacionadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs): Clima, Educação, Energia, Alimentos, Oceanos, Água, Economia Circular, Tecnologia da Informação e Comunicação, e Juventude.
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Sobre o G-Stic
O G-Stic realiza-se desde 2017 e compreende uma série de conferências globais voltadas a buscar, disseminar e acelerar o desenvolvimento e a aplicação de soluções tecnológicas sustentáveis do ponto de vista econômico e social, tomando como norte a concretização dos ODSs. Com apoio das Nações Unidas, o G-Stic reúne uma comunidade de especialistas “orientados para ação”.
A Fiocruz participa do G-Stic desde 2017, e, em 2019, por iniciativa de Paulo Gadelha e da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030, tornou-se coorganizadora do evento. Na edição de 2022, atua ao lado dos seguintes parceiros: VITO, a maior instituição belga de pesquisa em tecnologias limpas e desenvolvimento sustentável, que ancora a Conferência; African Centre for Technology Studies (Acts); Asian Institute of Technology (AIT), Indian Institute of Technology Delhi (IITD) e The Energy and Resources Institute (Teri).
A partir de 2018, o G-Stic foi estabelecido como ponto de encontro e plataforma global voltada a soluções tecnológicas integradas emergentes e transformadoras, com potencial de impacto no cumprimento dos ODS e das metas climáticas.
A edição 2020 da Conferência reuniu 3,7 mil participantes, de 140 países, chamando atenção para como ciência, tecnologia e inovação foram desafiadas durante a pandemia de Covid-19, ao mesmo tempo em que foram reconhecidas como parte essencial da solução para este e futuros eventos. Ficou claro, então, que a tecnologia por si só não substitui ou compensa outras medidas de saúde pública, mas tem papel cada vez mais crítico a desempenhar nas respostas a emergências.
Essa conferência inspirou a comunidade a olhar não só para os desafios atuais trazidos pela Covid-19, como para além, pensando-se em crises sanitárias futuras. O secretário geral das Nações Unidas, António Guterres, o economista norte-americano Jeffrey Sachs e a ex-primeira ministra da Noruega e ex-diretora geral da OMS, Gro Harlem Brundtland – que também participará da segunda etapa do evento, em 2022 –, estiveram entre os oradores principais.
“A Covid passou a ser referência central para pensar todas as questões, inclusive a questão tecnológica e de inovação”, analisa Paulo Gadelha. “Há um debate muito rico sobre o que a Covid trouxe para o sistema de inovação, mais amplamente, para a CT&I, sobre a capacidade de resposta desse campo. Algumas extremamente positivas, como o desenvolvimento em tempo muito curto de vacinas, com eficácia e segurança.Isso se relaciona ao contexto com o qual o TFM e o G-Stic trabalham: para que isso acontecesse, houve inovações nas tecnologias de ponta, na genética, no big data, na inteligência artificial, que já estavam em curso nas tentativas de desenvolvimento de vacinas para Mers e Sars”, acrescenta, lembrando que a inovação abrangeu, ainda, aspectos regulatórios e de financiamento.
G-Stic 2023 na Fiocruz
A próxima edição do G-Stic se realizará na Fiocruz, em fevereiro de 2023. “Será uma grande oportunidade de a Fiocruz trabalhar tanto os temas gerais do G-Stic, quanto questões temáticas e regionais, relacionadas à América Latina e Caribe, e de se afirmar o protagonismo da Fundação na conexão entre CT&I e a Agenda 2030”, destaca Paulo Gadelha.
Em discussão na sessão sobre Saúde do G-Stic 2022
• As novas tecnologias para acelerar o tempo de produção de vacinas e testes para diagnóstico e o desafio do acesso rápido a esses recursos em países de baixa renda.
• Transferência de tecnologia e garantia de autonomia aos diferentes países na produção de bens de saúde em resposta a suas necessidades.
• Soluções tecnológicas e sua contribuição para a concretização da Agenda 2030 e o alcance dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODSs).
• O potencial da CT&I para inclusão universal da população e a desigualdade entre aqueles que podem comprar tecnologia e conhecimento e aqueles que não podem.
• A recuperação do planeta da crise sanitária provocada pela Covid-19 e a preparação para o enfrentamento de novas epidemias.
• Para além dos debates acadêmicos, o papel de ferramentas como roadmaps (mapas que definem caminhos a serem seguidos e um conjunto de tarefas ordenadas cronologicamente a serem realizadas para a concretização de um projeto) no controle e prevenção desses futuras epidemias.
• O acesso digital e tecnológico a serviço da proteção das populações – em especial, as mais vulneráveis, dos efeitos das mudanças climáticas, sempre sentidos de forma desigual entre nações e regiões ricas e pobres.