Combate à desinformação e necessidade de individualização no tratamento de pacientes são debatidos no Inca
Publicado no site do Inca
Infodemia de desinformação sobre o câncer e necessidade de garantir o acesso dos pacientes a toda linha de cuidado. Esses foram alguns dos temas debatidos no Dia Mundial do Câncer (4 de fevereiro) no Auditório do Hospital do Câncer II (HCII/INCA), no Santo Cristo, Rio de Janeiro. O evento também deu destaque a depoimentos inéditos e à importância da individualização nos cuidados oncológicos com o tema “Histórias únicas, desafios em comum”. O objetivo é resgatar histórias das pessoas em torno da questão do câncer. Na ocasião, também houve o lançamento da edição temática da Revista Brasileira de Cancerologia (RBC), editada pelo Ministério da Saúde, INCA e Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, sobre "Vigilância do Câncer e seus Fatores de Risco".
O secretário-adjunto de Atenção Especializada da Saúde, Nilton Pereira Júnior, enfatizou a meta do governo federal em resolver o problema da restrição de acesso: “O presidente Lula coloca como centro de sua agenda, do terceiro mandato, que se resolva definitivamente um dos principais gargalos históricos do Sistema Único de Saúde, que é a restrição de acesso na atenção especializada, em suas múltiplas especialidades, especialmente na assistência oncológica”.
O consultor nacional da Organização Pan-americana da Saúde (Opas) para Tabaco e Álcool e Vigilância em Saúde, João Viegas, lembrou que um terço dos cânceres poderiam ser prevenidos com hábitos e alimentação saudáveis, além de atividade física. Por isso, ele comemorou os avanços na reforma tributária. “Tivemos uma vitória bastante marcante com a previsão de impostos saudáveis na reforma tributária” [aumento da tributação de produtos ultraprocessados]. Para ele, “isso marca um movimento importante no combate a esses fatores de risco” conhecidos.
A reitora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e representante do conselho editorial da Revista Brasileira de Cancerologia, Gulnar Azevedo, acentuou a dificuldade para a implementação efetiva de políticas públicas em saúde. “Uma coisa é aprovar a política [de controle do câncer], outra coisa é essa política chegar na base. Para essa política chegar na base precisa de todos nós. É preciso, principalmente, estar articulado com os outros níveis de atenção.”
“A gente não pode perder a empatia, porque cada pessoa reage a esse momento [diagnóstico de câncer] de uma maneira. A rede de relacionamento funciona de maneira diferente diante desses diagnósticos: alguns têm mais apoio, outros têm menos”, disse o diretor-geral do INCA, Roberto Gil. Ele e Gulnar Azevedo assinam o editorial da edição temática da RBC Prioridades e Desafios para a Prevenção e Vigilância do Câncer.
O número 1 do volume 71 da RBC, edição temática Vigilância do câncer e seus fatores de risco oferece um conjunto de estudos inovadores, com o objetivo de expandir o acesso ao conhecimento sobre o câncer. As pesquisas também buscam contribuir com a discussão sobre políticas públicas, melhorias nos processos de trabalho e produção de informações que possam influenciar positivamente a saúde da população brasileira.
O pesquisador da Coordenação de Prevenção e Vigilância do INCA Fernando Lopes Tavares de Lima representou os autores dos 27 artigos da edição temática da RBC. Ele e a pesquisadora Telma de Almeida Souza, da Coordenação de Ensino, são os autores do artigo Prevenção e controle do câncer em tempos de capitalismo de vigilância: caminhos para o combate à desinformação.
Entre outros desafios, o artigo retrata o problema da infodemia, ou seja, a disseminação rápida e ampla de informações, verdadeiras e falsas, sobre um determinado tema de saúde. E isso é particularmente evidente na desinformação sobre o câncer. “Por que as pessoas ainda acreditam na desinformação? Há mecanismos sociais e psicológicos muito fortes que envolvem cada um de nós”, explicou Fernando. O mais destacado é o viés de confirmação: quando uma informação falsa confirma aquilo que alguém acreditava previamente. Há outros elementos como a polarização e as teorias conspiratórias.
Algumas sugestões dadas pelos pesquisadores para enfrentar o problema são letramento midiático e científico, proteção da integridade das informações científicas, regulamentação e responsabilização de empresas e produtores de conteúdo nas redes sociais, parcerias institucionais e comunitárias e o fortalecimento de respostas institucionais.
A RBC pode ser encontrada no Portal INCA (www.gov.br/inca), no portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e na Biblioteca Virtual em Saúde Prevenção e Controle de Câncer.
Campanha e debate
Marise Mentzingen, chefe do Serviço de Comunicação Social do INCA, apresentou a campanha do Dia Mundial do Câncer 2025: “Unidos em Nossos Desafios, Únicos em Nossas Histórias”. Este ano a ideia é que relatos do câncer sejam compartilhados, mostrando que cada história é única e que as pessoas precisam de atenção específica.
O debate que se seguiu, mediado pela emocionada jornalista Gabriela David, ela própria diagnosticada com câncer de mama há um ano e meio, foi um exemplo da possibilidade e importância do compartilhamento. Igualmente emocionada Aline Montez, enfermeira e paciente em tratamento no INCA, contribuiu com a discussão, relatando sua trajetória vivendo com o câncer. A mesa também foi composta por Flavia Santanna, chefe do Setor de Oncologia Clínica do HC II; Cristiane Vaucher, ouvidora-geral do INCA; e Fernanda Vieira, gerente-geral da Ong INCAvoluntário.
O evento foi aberto Gelcio Mendes, coordenador de Assistência do INCA. Também participou da cerimônia a coordenadora-geral de Vigilância de Doenças Crônicas Não Transmissíveis do Departamento de Análise Epidemiológica e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Geórgia Maria de Albuquerque.
A apresentação foi de Juliana Alcides Lopes, do HC II.