Ações para sair da pandemia na América Latina
Em artigo para o jornal The New York Times, o ex-ministro da Saúde José Temporão, pesquisador do CEE-Fiocruz, e o diretor executivo do Instituto de Estudos Políticos de Saúde (IEPS), Miguel Lago, fazem uma análise da disseminação da pandemia de Covid-19 na América Latina, mostrando as limitações estruturais da região para o seu enfrentamento, e apontam saídas para a crise.
Eles explicam que, apesar de a saúde ser considerada um direito social na maioria dos países latino-americanos, os sistemas de saúde na região são os mais frágeis, devido à falta crônica de financiamento.Além disso, destacam, a região é considerada a mais desigual do mundo. Assim, embora a Covid-19 seja uma ameaça a todos expostos ao novo coronavírus, “a probabilidade que a doença se espalhe e cause condições mais graves e mais mortes é significativamente maior entre os mais pobres e não brancos”.
Como observam os autores, se na Europa os idosos são os mais vulneráveis, na América Latina, região considerada pela OMS no final de maio como o novo epicentroda pandemia, “a desigualdade distribui os fatores de risco de maneira mais igual entre as gerações”.
Uma consequência é a dificuldade de implementação de medidas emergenciais para deter a disseminação do vírus, como as políticas de isolamento social. “Na região, onde a informalidade do trabalho atinge cerca de 50% dos funcionários, deixar o trabalho e ficar em casa simplesmente não é uma opção”, observam. Os autores sublinham que para essas políticas serem eficazes é necessárioassegurar por um longo período uma renda básica para a população mais vulnerável e os trabalhadores informais.
Ao analisarem a situação do Brasil, um dos cinco países com maior número de mortes no mundo, Temporão e Lago ressaltam o papel do SUS. “Se não fosse a existência e a resistência do Sistema Único de Saúde, que cuida de quem não possui plano de saúde – ou seja, cerca de 75% da população –, as perspectivas no país seriam ainda mais graves”.
Para o enfrentamento da pandemia, elesapontam, ainda, a necessidade de uma coordenação dos governos nacionais e subnacionais e destacam a importância dos governos locais e da atenção primária à saúde. Os autores propõemutilizar estrategicamente o sistema de saúde e a confiança da população nos agentes comunitários de saúde para fazer o diagnóstico precoce de pessoas sintomáticas e traçar contatos de forma analógica, buscando-se superar o déficit tecnológico. E, em seguida, isolar essas pessoas para quebrar a cadeia de transmissão do vírus.
Por fim, ambos defendem o prolongamento das medidas de distanciamento social e explicam que qualquer abertura de atividade deve ser seja monitorada e baseada nas recomendaçõesda comunidade científica.