A produção de conhecimento científico no Brasil sintonizada com as necessidades de saúde da população esteve em pauta do webinário realizado em 16/12/2025, pelo Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE-Fiocruz). O encontro teve como ponto de partida o livro recém-publicado Políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação e os Desafios de Conexão com o SUS, da pesquisadora Patrícia Braga, integrante do grupo de pesquisa Desenvolvimento Sustentável, CT&I e Complexo Econômico-Industrial da Saúde (GPCEIS/CEE).
A abertura foi conduzida pelo coordenador-adjunto do CEE, Alessandro Jatobá, que destacou a relevância do tema para a construção de um projeto justo, sustentável e soberano para o país. “Fazer a articulação entre CT&I já é um desafio grande; em se tratando de saúde, acrescentam-se outros elementos, como articular indústria brasileira e território em torno do desenvolvimento de um projeto consistente de inovação para o SUS”, considerou.
O debate contou com a participação da presidente da Capes, Denise Pires de Carvalho; do presidente do CNPq, Olival Freire Júnior; e da pesquisadora e professora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IESC/UFRJ) Ligia Bahia, precedidos pela autora Patrícia Braga, que expôs os pontos principais da pesquisa que realizou e que integra o livro. A mediação ficou a cargo de Carlos Gadelha, coordenador do GPCEIS/CEE-Fiocruz, que ressaltou a missão social da ciência. “CT&I não é a cereja do bolo, é o próprio bolo. Estamos falando de ciência para a vida e para o planeta”, disse, parafraseando a socióloga e pesquisadora emérita da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Maria Cecília de Souza Minayo.
Patrícia Braga enfatizou a necessidade de alinhar políticas de CT&I às demandas do SUS, propondo reflexões sobre acesso à saúde, sustentabilidade e equidade. “A Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PNCTIS) pode ser estratégica para democratizar o acesso da população aos benefícios do progresso científico e tecnológico”, observou. Patrícia analisou os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) da saúde à luz das potencialidades e limites da indução da PNCTIS.
Ligia Bahia, orientadora da tese que embasou o livro, destacou a importância da continuidade da exploração do tema, dada a relevância dos achados para a elaboração de editais de pesquisa. “Os resultados [da pesquisa] podem ser muito úteis para que se levem adiante novos processos tanto de avaliação quanto de formulação de editais em relação, inclusive, às necessidades do SUS”.
A presidente da Capes, Denise Pires de Carvalho, trouxe dados sobre a produção científica nacional e as desigualdades regionais, alertando para a necessidade de formar mais doutores preparados para os desafios do século XXI. Em sua fala de encerramento, Denise reforçou um olhar estratégico para a área da saúde: “Pretendo manter o foco na capacidade instalada e no futuro que queremos para o nosso país. Se o foco for um SUS forte, temos mercado e demanda”, anunciou, acrescentando que a tese de Patrícia mostra que é possível avançar. “Precisamos investir em ciência regulatória, usar melhor os instrumentos disponíveis e criar novos para fazer do SUS o melhor sistema do mundo”.
Olival Freire Júnior destacou a importância do programa INCT para a ciência brasileira: “O INCT é fundamental, tanto que existe uma reflexão sobre torná-lo permanente. A ciência é uma atividade de médio prazo, mas ficamos sem edital desde 2014, só retomando em 2022. O compromisso do nosso presidente permitiu reestabelecer os financiamentos, lançar novo edital e apoiar pesquisadores de produtividade. Agora, precisamos investir mais na divulgação dos nossos programas e usar melhor os instrumentos para que a ciência seja aliada ao SUS”.
No encerramento, Carlos Gadelha sintetizou o espírito do encontro com uma mensagem otimista: “A ciência voltou. Os recursos voltaram. Estamos avançando em transferência de tecnologia e inovação. A vacina contra a dengue é um exemplo: vamos vacinar a população. Agora é avançar em uma agenda de transformação que reconstrua e projete o futuro. Ciência para a vida, para as pessoas e para o planeta”.
O encontro reforçou a urgência de estratégias nacionais para fortalecer a ciência e a inovação como motores do desenvolvimento social e econômico, com foco na saúde e na sustentabilidade. A expectativa é que novas políticas e editais ampliem oportunidades e consolidem um ecossistema científico capaz de responder às demandas do país.
Assista ao webinário na íntegra.