Violência nas escolas – Nota Pública da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz)
Publicado na EPSJV/Fiocruz
Os casos mais recentes de ataques a escolas no Brasil mostram um quadro que vem se agravando nos últimos anos. Segundo o relatório “O extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às escolas e alternativas para a ação governamental”, produzido durante o processo de transição governamental, foram 16 ataques entre 2002 e 2022. Nesse início de 2023, novos casos já foram registrados no país, sendo dois de maior destaque na mídia: o ataque de um ex-aluno a uma escola em São Paulo, que deixou uma professora morta e quatro pessoas feridas; e o atentado à creche em Santa Catarina, que vitimou quatro crianças.
A violência nas escolas do país é mais um reflexo da intensificação da violência na sociedade, observada principalmente nos últimos anos, junto com as mudanças causadas pelo desenvolvimento e diferentes usos da tecnologia na vida dos adolescentes e jovens, cada vez mais conectados virtualmente a redes, inclusive àquelas que incentivam as ações violentas. O isolamento social causado pela pandemia também é apontado como um agravante nessa questão, pois, ao mesmo tempo em que reduziu a sociabilidade afetiva, ampliou conexões virtuais e intensificou a exposição de muitas crianças e adolescentes à violência doméstica. Além disso, o armamento da população, os discursos de ódio e as notícias falsas também contribuem para o quadro atual de crescimento da violência nas escolas.
Nesse contexto, a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) vem a público se manifestar para reafirmar que o combate à violência nas instituições de ensino passa por vários aspectos da proteção social de estudantes e trabalhadores destas instituições, tais como ações de enfrentamento da violência, do bullying e do cyberbullyng nas escolas; constituição de vínculos sociais e cultura de acolhimento e empatia; não banalização do discurso de ódio na sociedade em geral, bem como apoio psicossocial a estudantes e comunidade escolar; e adequada cobertura da imprensa sobre os casos.
No relatório produzido no processo de transição governamental, são propostas estratégias como a formação urgente de profissionais da educação para identificar alterações de comportamento dos jovens; monitoramento de sites, plataformas e fóruns anônimos pelos órgãos de inteligência ligados às forças de segurança, que também devem manter um canal de comunicação direto com as escolas; promoção de um ambiente escolar saudável e acolhedor; realização de um trabalho pedagógico em educação crítica da mídia e de combate à desinformação; ações de prevenção psicológica como a criação de grupos terapêuticos e espaços de acolhimento em escolas; orientação aos profissionais da educação e à comunidade; presença permanente de psicólogos e orientadores educacionais no âmbito escolar; além de ações mais específicas no âmbito da segurança pública, como o desarmamento da população civil, mudanças na legislação e monitoramento de grupos extremistas. Ou seja, há necessidade de constituição de um pacto interfederativo e social mais amplo e não somente a proposição de ações de ronda e segurança nas portarias das instituições de ensino.
A EPSJV/Fiocruz acredita que essas ações são importantes para a mudança na situação atual de violência nas escolas, mas, para que a transformação aconteça é preciso haver um compromisso de todos os envolvidos nas ações de educação e segurança: famílias, escolas, governos em todas as esferas (municipal, estadual e federal), além da sociedade em geral. O comprometimento de todos é fundamental para que as escolas, que sempre foram espaços de proteção, desenvolvimento e acolhimento para estudantes e toda a comunidade escolar, possam seguir em sua missão de educar.