Drogas psiquiátricas: o olhar de especialistas sobre a retirada da medicação

Drogas psiquiátricas: o olhar de especialistas sobre a retirada da medicação

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Quais as possibilidades de se desenvolverem tecnologias que apoiem a retirada gradativa de medicação psiquiátrica entre usuários? Essa pergunta norteou pesquisa realizada em parceria pelo Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz e o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental (Laps/Ensp/Fiocruz), que buscou conhecer o que especialistas da área pensam a respeito. Os resultados foram apresentados durante o 2º Seminário Internacional A Epidemia das Drogas Psiquiátricas, realizado de 29 a 31 de outubro de 2018.

A pesquisa foi realizada por meio de um questionário virtual enviado por email a 14 mil especialistas, de várias partes do mundo, autores de artigos sobre o tema da retirada de medicamentos, publicados nos últimos cinco anos e indexados na base Web of Science. Esses respondentes foram identificados e contataos a partir de metodologia desenvolvida pela equipe de Foresight do CEE-Fiocruz. “Essa tecnologia possibilita a consulta a grande número de especialistas, de forma rápida e barata”, explicou o pesquisador do Centro Bernardo Cabral, acrescentando que a ideia é buscar antecipar, a partir da visão de especialistas, possíveis futuros, de modo a se estar preparado para o que virá. Dos emails enviados, foram recebidas 447 respostas.

O pesquisador Fernando Freitas, do Laps, destacou a importância de se contar com uma tecnologia voltada à redução gradativa do uso de drogas psiquiátricas. “O que temos hoje são os medicamentos em doses fixas, tornando muito difícil planejar um processo de redução gradativa. A literatura em geral trata de métodos precários, grosseiros, com interrupção de forma abrupta e sintomas muito severos”, explicou.

Fernando abordou a experiência da Holanda de redução planejada, de acordo com o perfil do usuário, levando em conta aspectos importantes como o tempo em que a droga esteve em uso. “O planejamento é enviado para o laboratório, que prepara cartelas apropriadas ao paciente”, relatou. “Será que podemos fazer algo parecido? Foi o que buscamos identificar na parceria com o CEE-Fiocruz”.

A pesquisa mediu o grau de conhecimento dos especialistas a respeito do tema, classificando-o nos níveis alto, algum ou nenhum. Do total, 50% disseram ter alto conhecimento. Quanto à indagação sobre a importância de um processo de retirada para o bem estar dos pacientes, entre os que disseram ter bom conhecimento do assunto, a maior parte indicou ser relevantem. “Assim, consideramos que nossa preocupação em discutir o tema é pertinente”, observou Fernando.

Ele chamou atenção também para a discussão sobre os sintomas do usuário, ao deixar de usar uma droga psiquiátrica. Convencionalmente, esses sintomas são atribuídos ao próprio transtorno, mas já se entende que podem decorrer da abstinência causada pela retirada. “A maioria dos que se declararam com algum ou pouco conhecimento concordou que existem sintomas provocados por abstinência. Isso mostra mudanças no cenário científico. Anos atrás, a resposta não seria essa”, considerou.

 

Assista aos vídeos que os pesquisadores Bernardo Cabral e Fernando Freitas gravaram para o blog do CEE-Fiocruz, após o seminário.