O que os brasileiros pensam sobre a descriminalização da maconha?
Se a guerra às drogas fracassou, como vêm constatando setores da sociedade dos mais variados perfis, o caminho para a descriminalização e a legalização tem um obstáculo a ser removido com rapidez: a maioria dos brasileiros considera-se desinformada para participar desse debate. A pesquisa A percepção dos brasileiros sobre temas relacionados à descriminalização da maconha, realizada pelo Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE-Fiocruz), apontou que 56% dos entrevistados disseram estar mal informados ou muito mal informados sobre o tema, sendo que entre as mulheres o percentual sobe para 65% e, entre os que têm entre 45 e 59 anos, para quase 70%. Para 74,7%, ainda, o debate “não está sendo bem feito”, percentual que aumenta, à medida que aumentam também as faixas de renda (80% da população que recebem mais de dois salários mínimos) e a escolaridade (83% dos que têm nível superior). A pesquisa foi realizada por telefone, envolvendo 3.007 pessoas, com 18 anos ou mais, entre os meses de outubro e novembro 2014.
Foram avaliados aspectos relacionados a legislação, comportamentos, expectativas, experiências e informação. Pouco mais da metade dos entrevistados (53%) disseram saber que descriminalizar a maconha significa mudança na lei, percentual que sobe entre os que afirmaram saber que “legalizar a maconha significa que a compra e a venda em estabelecimentos oficiais passa a ser legal e que as bocas de fumo continuam sendo crime” (67,8%). Os resultados gerais apontam para a necessidade de se conceberem políticas públicas de educação e de comunicação para atender as demandas por informação apontadas e abrir caminhos para levar o debate a maior número de pessoas.
Os dados mostram, ainda, o protagonismo da mídia como principal fonte de informação sobre o tema: 37,9% disseram informar-se por televisão, 31,5%, pela internet, 14,1%, por jornal, e 4,7% por revistas. Mostraram-se bem menos expressivas fontes como amigos e familiares (2,9%), livros (2,3%), escola (2,1%), médicos (0,4%) e posto de saúde (0,3%). A internet revelou-se a fonte principal de informação para os jovens: 50% entre os da faixa dos 18 aos 25 anos. Os dados evidenciam a responsabilidade da mídia em relação ao que veicula sobre o tema e os desafios que se impõem ao sistema de saúde e outras instituições, no sentido de também se tornarem referência na informação aos brasileiros.
Ao mesmo tempo em que se declararam, em sua maioria, mal informados para participar do debate sobre a maconha, os entrevistados também apontaram alguma familiaridade com esse universo: 70,5% disseram conhecer os efeitos da maconha e 71,5% afirmaram que “por usarem maconha, as pessoas têm uma vida pior”. Esses percentuais ficam mais altos à medida que aumenta a faixa etária: entre aqueles com 60 anos ou mais, sobe para 87,2% o índice dos que dizem que usuários têm “uma vida pior” – 56,7%, entre os de 18 a 24 anos; 63,5%, de 25 a 34 anos; 75,7%, de 35 a 44; e 80,5%, 45 a 59 anos). Os dados apontam para uma questão geracional, em que as pessoas mais velhas mostram-se mais refratárias, mais resistentes no que diz respeito ao consumo da maconha.
Os índices dos que consideram que com o uso da maconha tem-se uma vida pior variam também entre aqueles que se disseram bem ou muito bem informados (62,2%) e mal ou muito mal informados (76,9%), indicando que o grau de informação também influencia na resposta dada.
A pesquisa A percepção dos brasileiros sobre temas relacionados à descriminalização da maconha foi coordenada pelo Grupo de Trabalho Reforma das Políticas e Legislação sobre Drogas no Brasil do CEE-Fiocruz e realizada pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS).