Antonio Ivo de Carvalho: uma vida dedicada à saúde coletiva

Antonio Ivo de Carvalho: uma vida dedicada à saúde coletiva

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O Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz se despede de seu fundador, o sanitarista Antonio Ivo de Carvalho, que nos deixou em 10/06/2021. Antonio Ivo esteve à frente do CEE como coordenador desde sua criação, em 2014, até abril de  2021. Vinculado à Presidência da Fiocruz, o CEE  apoia a construção de políticas públicas de saúde justas e sustentáveis, a partir de pesquisas, análises e debates com diferentes setores da sociedade. 

No CEE, Antonio Ivo, com sua extraordinária capacidade de articulação, reuniu uma gama de valorosos pesquisadores para o aprofundamento de temas tão diversos quanto o futuro da proteção social, estudos prospectivos sobre novas tecnologias de tratamento e diagnóstico na saúde, gestão e relações federativas. Sua atuação sempre se pautou pela defesa da garantia do direito à saúde e da equidade.  

 

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Na Fiocruz, Antonio Ivo foi também diretor da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp) por dois mandatos, de 2004 a 2013. Em sua trajetória na Escola, com seu espírito inovador, criou e coordenou, de 1998 a 2004, o Programa de Educação a Distância da Ensp, considerado um marco institucional, que viabilizou as bases para a constituição de redes nacionais de formação para o SUS. Concebeu, ainda, a Escola de Governo em Saúde e a vice-direção de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico. Também na Ensp, consolidou os serviços assistenciais no Centro de Saúde Germano Sinval Faria (CSEGSF) e modernizou o parque laboratorial da Escola. 

Outra inovação implementada foi a iniciativa Teias-Escola Manguinhos, fruto de cooperação inovadora tripartite entre o governo federal, por intermédio da Ensp/Fiocruz, e os governos estadual e municipal do Rio de Janeiro. Como integrante do Departamento de Administração e Planejamento em Saúde (Daps), foi docente em diversos de seus cursos, como os de especialização, mestrado e doutorado em Saúde Pública. 

Antes disso, como pesquisador associado do Programa de Estudos Sociais de Saúde (Peses) criado no âmbito da Ensp, sob a coordenação de Sergio Arouca, acompanhou e avaliou as experiências de medicina comunitária em andamento no país. Em 1985, passou a integrar a assessoria da presidência da Fiocruz.

A gestão de Antonio Ivo na Ensp foi marcada, ainda, pela Política de Acesso Aberto da Escola, concebida em 2012, um processo inédito entre as unidades da Fiocruz. A política foi publicada oficialmente no site Registry of Open Access Repositories Mandatory Archiving Policies (Roarmap). 

Médico, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1974, Antonio Ivo se especializou em Saúde Pública na Ensp, em 1975, e fez sua residência, no ano seguinte, em doenças infecciosas e parasitárias, no Hospital São Sebastião, ligado à Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro.  Em pleno recrudescimento da ditadura civil-militar, foi militante ativo do movimento estudantil. 

Mestre em Ciências, também pela Escola Nacional de Saúde Pública, defendeu, em 1994, a dissertação Conselhos de Saúde no Brasil, posteriormente publicada como livro e sendo considerada referência para a análise dos conselhos como uma articulação entre Estado e sociedade. O trabalho foi seguido de outras publicações dedicadas às relações entre democracia, participação e saúde, municipalização e regionalização.

Além de marcar fortemente a história da Fiocruz, Antonio Ivo destacou-se na liderança do movimento popular de saúde desde o início de sua vida profissional como médico. A partir de 1975, recém-formado, montou e coordenou o Programa de Saúde Materno Infantil da Diocese de Nova Iguaçu, a convite de Dom Adriano Hipólito, um trabalho de medicina comunitária, envolvendo educação e conscientização das populações vulneráveis da Baixada Fluminense.

No final da década 70, trabalhou como técnico da Federação dos Órgãos de Assistência Social e Educacional (Fase), prestando assessoria pedagógica a diversos grupos de educação popular em todo o país. A partir de 1979, assumiu a coordenação editorial da revista Proposta, editada pela Fase e devotada à discussão conceitual e difusão de experiências de educação e saúde comunitária em curso no país.

Antonio Ivo teve, também, papel importante na gestão em saúde. Em 1982, assumiu a Secretaria Municipal de Saúde de São João de Meriti, município da Baixada Fluminense, que adotou o modelo da rede de postos comunitários de saúde. A partir de 1983, integrou a equipe de planejamento do Instituto Nacional do Câncer (CNCC), participando das iniciativas de montagem do Sistema Nacional de Câncer do país. Em 1987, foi nomeado subsecretário de Estado de Saúde, ficando responsável pela coordenação assistencial da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e pelo processo de municipalização então em curso, com vistas à implantação do Sistema Único Descentralizado de Saúde (Suds) e, em seguida, do SUS. 

Como criador e coordenador do Programa Especial de Saúde da Baixada Fluminense (PESB), buscou suprir a carência assistencial dos municípios daquela região, com um novo modelo de unidades assistenciais, para o atendimento 24 horas por dia. Nesse cargo, coordenou também o Programa Estadual de Sangue e assumiu a representação do Rio de Janeiro no Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass). 

Com uma biografia que se confunde com a trajetória do SUS, Antonio Ivo participou da assessoria da Comissão Organizadora da histórica 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, e posteriormente da Comissão Nacional da Reforma Sanitária. Foi vice-presidente do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) de 1996 a 1998 e membro do Conselho Consultivo da entidade nas gestões posteriores.

Antônio Ivo de Carvalho nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 9 de junho de 1950, filho de João Baptista de Carvalho e Belmira Fernandes de Carvalho. Deixa a esposa Ana Furniel, com quem foi casado por 23 anos, quatro filhos, João Rodrigo e Letícia, Maria e Guilherme, e os netos Helena, Inácio e Rafael.

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