Por mais práticas holísticas em saúde mental, defende artigo
O artigo It is time for more holistic practices in mental health (É hora de mais práticas holísticas em saúde mental), assinado pelo psiquiatra e Paulo Amarante, pesquisador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca(Laps/Ensp/Fiocruz), pelo neurocientista Sidarta Ribeiro, vice-diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e pela psicóloga Ana Pimentel, publicado neste mês na revista científica PLOS Mental Health, tem ganhado grande repercussão internacional. Os três autores estão vinculados, também, ao Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz. Oito veículos de imprensa nos EUA divulgaram o texto, inclusive a revista de negócios e economia Forbes. Assinam ainda o artigo os pesquisadores Valter R. Fernandes e Andrea C. Deslandes , do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Os autores partem da constatação de que a Psiquiatria tem se empobrecido epistemologicamente, perdendo as várias dimensões dos saberes sobre o sofrimento humano, inclusive a do próprio senso comum. “Percebemos o abandono das várias formas de compreensão da experiência humana, concebidas, por exemplo, pelas diferentes religiões, pela relação de ancestralidade dos povos originários, assim como pelas diferentes áreas das ciências humanas, tais como Antropologia, Artes, Filosofia e História”, observa Paulo Amarante, em entrevista ao blog do CEE-Fiocruz.
O texto faz uma crítica aos “modelos psiquiátricos hegemônicos do século XX, centrados na noção de doença”, que atribuem a fenômenos psicológicos complexos, tais como psicose ou depressão, uma causa “natural”, seja bioquímica ou neurofisiológica. De acordo com Paulo, tais explicações causais acabam “não levando em conta, inclusive, as várias abordagens oferecidas pela psicanálise e psicologia” e assim “o mal-estar humano, o fracasso emocional, profissional, e o que envolve as relações afetivas, perdem o valor”.
Conforme alerta o psiquiatra, um dos protagonistas da luta antimanicomial e da Reforma Psiquiátrica no Brasil, está havendo uma hipermedicalização na saúde mental. Ele identifica, nas práticas médicas atuais, que o predomínio dessa visão mono causal bioquímica como explicação dos transtornos leva à prescrição de tratamento bioquímico como único recurso terapêutico possível. As consequências disso, de acordo com o pesquisador, são imprevisíveis. “Os profissionais aprendem a prescrever medicamentos e depois não sabem tirar”, aponta Paulo, referindo-se à dificuldade de acompanhamento dos efeitos desses remédios e da dependência que muitos deles causam no paciente. “O que estamos propondo é uma abordagem mais complexa, no sentido filosófico do termo, polissêmica e holística da experiência humana”, conclui.
Leia o artigo em inglês aqui.