Abertura do 14º Congresso da Abrasco destaca democracia, equidade e justiça climática

Abertura do 14º Congresso da Abrasco destaca democracia, equidade e justiça climática

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O 14º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva foi aberto em Brasília, com um chamado enfático à defesa da democracia, à equidade e à justiça climática como pilares para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). A cerimônia reuniu representantes da Abrasco, Fiocruz, Ministério da Saúde, governos, academia e movimentos sociais, marcando o início de uma semana de debates que se estende até 3 de dezembro, no Centro Internacional de Convenções do Brasil.

O presidente da Abrasco, Rômulo Paes de Sousa, coordenador do CEE-Fiocruz, destacou a expansão da formação em saúde coletiva no Brasil como motor da força política e científica do campo. “Temos 102 cursos de pós-graduação distribuídos no Brasil inteiro e 24 de graduação. Entre 2021 e 2024, formamos 5,9 mil mestres e 1.851 doutores”, contabilizou.

Segundo Rômulo, essa potência se revela na dimensão histórica do Abrascão e na trajetória da saúde coletiva, marcada pela defesa da democracia e da equidade desde os tempos de resistência à ditadura militar. "Nós quisemos a democracia no Brasil, quando o país vivia anos de chumbo, uma repressão intensa contra a população brasileira, sobretudo contra aqueles que discordavam do regime militar e da forma opressiva e antipopular com que era governado. Nós queríamos também um sistema de saúde que fosse a expressão dessa democracia e que inserisse na sua doutrina a equidade, entendendo que as desigualdades injustas precisavam de ações específicas para que fossem suprimidas”.

Ele mencionou o momento político favorável com o atual governo federal e o papel da crítica qualificada no SUS. E lembrou a atuação da ex-ministra da saúde, Nísia Lima Trindade, à frente da pasta.  “Temos um governo comprometido com esses mesmos objetivos. Temos um governo que num primeiro momento a partir da gestão de Nísia Trindade Lima restaurou a funcionalidade do Ministério da Saúde, das políticas de saúde, dos programas de saúde restabeleceu a ciência como parâmetro para o processo decisório na política pública, restituiu as instâncias decisórias do SUS, restabeleceu uma relação civilizada, mas soberana com os outros poderes.
Ao concluir, Romulo afirmou que a pauta climática é indissociável da defesa da democracia e da equidade. “A justiça climática é um fenômeno planetário, mas que se abate sobre as populações de forma desigual. Precisamos ter políticas específicas”.

A diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damasio, celebrou o esforço coletivo para realizar um congresso plural e acessível. “Foi necessária muita dedicação para viabilizar um Congresso múltiplo, com acessibilidade e diversidade presente em cada canto, seja de gênero, racial, regional, institucional, geracional, representativa de todas as questões presentes aqui na Agenda de inclusão”, considerou.

Ela destacou o sucesso do evento com o volume expressivo de estudos inscritos e o papel transformador da saúde coletiva. “Cada resumo recebido revela o interesse que constrói a saúde coletiva todos os dias e de sermos agentes de transformações da realidade”.

Conforme observou, referindo-se ao tema da 14ª edição, “é preciso olhar para as destruições que vulnerabilizam as pessoas em seus territórios e construir caminhos em defesa da vida, com mais dignidade, justiça e respeito”.

A diretora lembrou ainda o simbolismo da tenda Paulo Freire, que completa 20 anos e homenageia o educador popular José Ivo Pedrosa. “Cabe a nós reiterar o compromisso histórico, ético e político da Abrasco, como preconiza o Sankofa [símbolo e conceito africano que convida a aprender com os erros e saberes do passado em direção ao futuro], de olhar para trás e fazer o presente acontecer para construir um futuro melhor.”

A vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Marly Marques da Cruz, reforçou que o congresso não convoca apenas à reflexão, mas à prática transformadora. “Estamos sendo convocados para um grande debate, mas não só para o pensar e o refletir, mas também para o agir”, afirmou.

Para ela, democracia, equidade e justiça climática exigem enfrentamentos urgentes articulados ao contexto global. "Quando falamos em democracia, equidade e justiça climática, estamos tratando de temas fundamentais, especialmente diante das urgências que exigem enfrentamentos imediatos. Ao abordarmos essas questões, buscamos também compreender a conjuntura e o contexto geopolítico em que estamos inseridos. Para enfrentar as desigualdades sociais e raciais em nossos territórios, é essencial conectar esse debate a uma perspectiva global”.

Marly reforçou a importância de políticas construídas a partir dos territórios. "Precisamos nos aproximar mais das realidades locais, compreender suas necessidades e conectar esse entendimento ao que temos produzido nas pós-graduações, na formação técnica e na educação popular. Só assim o conhecimento gerado fará sentido para quem está na ponta”.

Ela também chamou atenção para os efeitos da crise climática e da insegurança alimentar: “A crise ambiental e a insegurança alimentar atravessam toda a nossa discussão da saúde, porque não adianta falarmos de saúde sem pensarmos na determinação social que produz desigualdades”.

O Abrascão vai até 3/12/2025.