Políticas e Ciência: evolução simultânea durante a pandemia e suas consequências
A rápida produção de novos conhecimentos científicos durante a pandemia da Covid-19 levantou questões importantes sobre o uso da Ciência na elaboração de políticas nesse período. Ao combinar dois bancos de dados: Overton e Dimensions, que capturam, respectivamente, políticas e ciência, e suas interações, pesquisadores da Universidade Northwestern (EUA) examinaram a coevolução de desses dois campos durante a pandemia. O estudo foi publicado em 07/01/21, na revista Science. A análise sugere que muitos documentos de diretrizes políticas na pandemia acessam orientam-se substancialmente pela ciência recente, revisada por pares e de alto impacto. Mas, embora a ciência tenha tido papel importante na tomada de decisão de formuladores de políticas no contexto da pandemia, segundo a publicação, a facilidade do compartilhamento de dados e pesquisas, por meio de repositórios de preprints, por exemplo, tem desempenhado papel desproporcional na disseminação de pesquisas relacionadas à Covid-19 – o que nem sempre pode trazer boas consequências. A coevolução próxima entre políticas e ciência oferece uma indicação de que um link importante foi formado, mas não tem sido condição suficiente para eficácia na contenção da pandemia, escrevem os autores. Embora, a ciência aberta permita que a comunidade em geral verifique e questione resultados e alegações, observam os pesquisadores, divulgar publicamente a ciência antes que passe pela revisão por pares pode minar o rigor das evidências científicas acessíveis ao público, e na era da desinformação pode produzir danos duradouros se as evidências apresentadas se revelarem menos robustas.
De acordo com o estudo, é inédita essa rápida resposta da ciência ao desafio de conter o novo coronavírus, bem como a velocidade recorde com que esse conhecimento tomou forma de políticas. O entendimento científico da Covid-19 evoluiu rapidamente, como pode ser observado pela forte resposta da pesquisa global. De acordo com dados do Dimensions, mais de 40 mil artigos sobre coronavírus foram publicados de 1º de janeiro a 30 de maio de 2020. “Nossos achados revelam conexões estreitas entre a evolução das políticas voltadas a Covid-19 e a evolução do campo científico”, avaliam os autores.
O estudo aponta, ainda, que as políticas podem citar a ciência por motivos diferentes, dependendo dos interesses específicos de cada um e pode até ser distorcida durante o processo de disseminação.
Os documentos de diretrizes políticas sobre a Covid-19 não parecem isolados dos avanços científicos nem dependem de ciência duvidosa, indicam também os resultados. “Essas descobertas parecem encorajadoras para a comunidade científica, à medida que cientistas, periódicos e financiadores trabalham rapidamente para avançar e validar novas pesquisas, na esperança de que seu trabalho possa afetar o curso da pandemia”.
A conclusão do estudo é que, embora os avanços científicos forneçam um bem público global e os resultados científicos estejam sendo ouvidos, eles ainda não estão sendo ouvidos em todos os lugares.