Pesquisadores criam sistema que substitui intubação em pacientes com insuficiência respiratória
A ventilação não invasiva (VNI) nos casos de hipóxia (insuficiência respiratória) é mais confortável para os pacientes e mais eficiente para os sistemas de saúde, por ter custo menor e reduzir a demanda por ventiladores mecânicos. No entanto, esse procedimento mesmo quando indicado no tratamento da hipóxia, não é aplicado, devido ao risco de contaminação do ambiente hospitalar por partículas virais suspensas em aerossóis, gerados pela pressão de ventilação em máscaras ou pelo alto fluxo de oxigênio em cateteres nasais.
Para se lançar mão da VNI, o paciente precisaria ficar isolado em sala individual, com pressão negativa e renovação do ar por filtragem de alta eficiência, utilizando filtros Hepa certificados, o que inviabiliza o procedimento. Assim, esses pacientes acabam sendo submetidos a intubação orotraqueal, necessitando ser sedados e mantidos em ventilação mecânica.
Diante desse quadro, um grupo de pesquisadores da Universidade do Estado da Bahia (UFBA), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Laboratório Gonçalo Muniz, da Fiocruz Salvador, Hospital São Rafael (Salvador, BA) e Centro Universitário do Planalto Central (DF), desenvolveu o BhioCovid, um sistema de isolamento e proteção de pacientes com infecções virais respiratórias, para que sejam submetidos à VNI de forma segura, em espaços coletivos, “facilitando a logística do enfrentamento da pandemia e diminuindo as taxas de infecção de profissionais de saúde”, como destacam em artigo publicado na Expert Review of Medical Devices. O sistema foi desenvolvido com apoio institucional dos departamentos de Química e de Fisioterapia da UFSCar.
Trata-se de uma capa flexível com elástico, com um conector reto em poliestireno, filtro bacteriano viral e um tubo de silicone translúcido. A estrutura em nada interfere na dinâmica do uso do leito hospitalar, conforme observam os pesquisadores. Todo o material é descartável, com exceção da estrutura de sustentação, que é autorreciclável.
Cafeína como marcador
Para testar o sistema, o grupo utilizou como marcador molecular a cafeína, cujas partículas têm peso e tamanho menores do que as partículas virais. A cafeína foi aerossolizada no interior do sistema de isolamento, de modo a saturar o ambiente interno, explicam. Concomitantemente, o sistema sofreu aspiração contínua através do vácuo hospitalar. Sensores sentinela foram posicionados em pontos estratégicos do sistema de isolamento, considerados passíveis de fragilidade, de onde saíam e entravam mangueiras e cabos de monitoramento, conforme descrevem.
“Testamos exaustivamente, por 1.380 minutos, em situações que vão para muito além do que se encontra na prática clinica. Fizemos aspersão de até 14 mil centímetros de água, enquanto uma VNI com pressão positiva chega a até 30 centímetros de água”, explica o oncologista e pesquisador Claudio Quadros, da Faculdade de Medicina da Universidade do Estado da Bahia, integrante da equipe. Não foi observada a presença da substância cafeína nos sensores sentinela posicionados nos pontos de possíveis fragilidades. Houve ainda uma etapa de testagem do protótipo final, com DNA viral sintético, nos mesmos pontos de experimentação definidos para o teste com cafeína.
O BhioCovid está em produção pela Bhiossuply, indústria do Rio Grande do Sul, com certificação da Anvisa, e já vem sendo usado para tratar pacientes que sofreram hipóxia pela Covid-19, evitando intubação e internação em UTI.