Opas lança Código Latino-Americano e Caribenho contra o Câncer voltado à redução da incidência da doença na região

Opas lança Código Latino-Americano e Caribenho contra o Câncer voltado à redução da incidência da doença na região

Já leu
Capa do novo Código contra o câncer, mostrando mãos em concha segurando fitas coloridas que simbolizam as lutas contra os diferentes tipos de câncer

Está em circulação a primeira edição do Código Latino-Americano e Caribenho contra o Câncer, iniciativa da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e de sua Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc), voltada à redução da incidência da doença na região, por meio de estratégias de prevenção e educação. O Código, que traz 17 diretrizes nesse sentido, foi lançado no Brasil em 25/10/2023, em evento realizado em São Paulo, com organização da AmigoH – Amigos Einstein da Oncologia e Hematologia, que integra a divisão de Responsabilidade Social da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. Antes disso, em 17/10/2023, a publicação foi apresentada aos líderes mundiais em saúde e câncer durante sessão plenária da Cúpula Mundial de Líderes do Câncer da União Internacional para o Controle do Câncer (UICC) em Long Beach, Califórnia, por meio de evento virtual organizado pela Opas e Iarc.

O documento  faz parte do Código Mundial Contra o Câncer da Iarc, desenvolvido de acordo com o modelo do Código Europeu (este, em sua quarta edição) e está disponível em inglês, espanhol e português. Conforme destaca o site da Opas, o desenvolvimento do Código resulta do trabalho realizado por um grupo de mais de 60 especialistas da América Latina e Caribe, que analisou as evidências e desenvolveu as recomendações sobre a melhor forma de prevenir o câncer.

A disseminação e implementação do novo Código na região deverá contar com a atuação de um grupo de Advocacy, integrado pela Rede de Institutos e Instituições Nacionais de Câncer (Rinc), pela Sociedade Latino-Americana e do Caribe de Oncologia Médica (Slacom), a Associação das Ligas Ibero-Americanas Contra o Câncer (Alicc), a Coalizão Caribe Saudável e a AmigoH, bem como organizações da sociedade civil que estão atuando ao lado das principais agências, com esse objetivo. 

A Iarc é parte da OMS e tem a missão de coordenar e conduzir pesquisas sobre as causas do câncer humano e os mecanismos de carcinogênese, bem como de desenvolver estratégias científicas para o controle da doença. A Agência está envolvida em pesquisas epidemiológicas e laboratoriais e divulga informações científicas por meio de publicações, reuniões, cursos e bolsas de estudo. 

“O Código é particularmente relevante para os prestadores de cuidados de saúde primários, que são o primeiro ponto de contato com o sistema de saúde", observa o diretor da Opas, Jarbas Barbosa. “Esperamos que, por meio desse Código, possamos influenciar coletivamente mudanças positivas nas políticas e comportamentos de saúde para prevenir o câncer". 

Compõem o Código ações e intervenções comprovadamente capazes de reduzir a incidência e a mortalidade relacionadas ao câncer, tais como prevenir o uso do tabaco e reduzir o consumo de álcool; limitar a exposição a agentes cancerígenos, como a poluição do ar; prevenir e/ou tratar infecções relacionadas ao câncer; e promover intervenções médicas e exames. O Código também inclui recomendações aos formuladores de políticas e governos, sobre a criação de ambientes favoráveis que apoiem a adoção das ações. As recomendações estão alinhadas com o conceito de Best Buys [ações a serem executadas de imediato, para que produzam resultados acelerados em termos de vidas salvas, doenças prevenidas e custos altos evitados], e com as estratégias de prevenção do câncer da Opas. 

"Em 2020, houve quase 1,4 milhão de novos casos de câncer na América Latina e no Caribe, e mais de 700 mil pessoas morreram da doença na região naquele ano", contabiliza a pesquisadora da Iarc, Carolina Espina, à frente do projeto. “Até 2040, a projeção é de aumento de quase dois terços, para 2,3 milhões de casos, e de mais de três quartos, para 1,25 milhão de mortes por ano. O Código Latino-Americano e do Caribe contra o Câncer, desenvolvido para atender as necessidades dessa região, é uma poderosa ferramenta de prevenção do câncer baseada em evidências para ajudar as pessoas e os formuladores de políticas a abordar e, talvez, reverter essas tendências", disse. 

O documento será complementado por um programa de e-learning voltado a profissionais da atenção primária à saúde, que estará disponível gratuitamente no Campus Virtual de Saúde Pública da Opas
 

Edição especial da revista ‘Cancer Epidemiolgy’

A propósito do novo Código, a revista científica Cancer Epidemiology publicou edição especial abordando aspectos gerais dos agentes infecciosos associados ao câncer e analisando as recomendações reunidas no documento, baseadas em evidências e adequadas às condições epidemiológicas, socioeconômicas e culturais da região.

Conforme aponta o artigo, cerca de 13% de todos os cânceres n o mundo estão associados a agentes infecciosos, particularmente em países com poucos recursos. Os principais agentes são Helicobacter pylori (H. pylori), que causa câncer gástrico; papilomavírus humano (HPV), que causa câncer cervical, vulvar, vaginal, peniano, anal e orofaríngeo; vírus da hepatite B e C, que causa câncer de fígado; e vírus da imunodeficiência humana (HIV), associado a câncer de colo do útero, Kaposi sarcoma (SK) e linfoma não Hodgkin. Na América Latina e no Caribe, cerca de 150 mil casos de câncer são causados ​​anualmente por infecções.
 

O histórico da produção do novo Código Latino-Americano e Caribenho contra o Câncer

A ideia de um Código para a América Latina e Caribe voltado a reduzir a incidência do câncer na região veio sendo gestada desde 2014, quando a Iarc propôs ao então coordenador da Rede de Institutos e Instituições Nacionais de Câncer (Rinc), Luiz Santini – hoje à frente do projeto de pesquisa Doenças Crônicas e Tecnologias de Saúde, do CEE-Fiocruz, ao lado do ex-ministro José Gomes Temporão –, adotar a iniciativa, inspirada no Código Europeu, desenvolvido pela Iarc alguns anos antes. Em 2017, em reunião na sede da Opas, é desenhado o projeto, com participação do Instituto Nacional do Câncer, único instituto nacional convidado, sendo os demais institutos e instituições nacionais voltadas ao câncer da região representada na reunião pela Rinc.

Em 2018, é definido, em nova reunião organizada pela Opas, que o novo Código deveria reunir recomendações específicas e informações complementares com base em recentes evidências científicas sobre as causas do câncer s sua prevenção, refletindo os determinantes sociais, econômicos e ambientais do câncer na América Latina e Caribe.

Em maio de 2022 foi realizada a primeira reunião plenária organizada no Hospital Albert Einstein para apresentação e avaliação das recomendações do Código, cujo texto foi concluído em nova reunião executiva, em novembro do mesmo ano, para lançamento em 17/10/2023 em Los Angeles, e em 25/10/2023, em São Paulo.
 

Conheça as 17 recomendações do Código Latino-Americano e Caribenho contra o Câncer

1. Não fume ou use qualquer tipo de tabaco. Se você usa, é possível parar. Se necessário, conte com ajuda profissional. Também não use cigarros eletrônicos, pois levam ao uso de produtos de tabaco. 

2. Faça de sua casa um lugar livre da fumaça do tabaco. Respeite e promova as leis que garantem esses espaços livres de fumaça do tabaco para cuidar da nossa saúde. 

3. Mantenha ou atinja seu peso saudável, ao longo da vida, para ajudar a prevenir vários tipos de câncer. 

4. Faça atividade física diariamente, ao longo da vida, e limite o tempo que passa sentado. Ser uma pessoa fisicamente ativa ajuda a prevenir vários tipos de câncer.  

5. Faça uma alimentação saudável. Coma a maior quantidade possível de verduras e frutas em cada refeição. Inclua, habitualmente, leguminosas como feijão e lentilha. Coma grãos integrais, como pão integral, e arroz integral, em vez de grãos refinados, como pão branco ou arroz branco. Evite o consumo de bebidas açucaradas (refrigerantes, sucos prontos com açúcar). Prefira água potável. Limite o consumo de alimentos ultraprocessados, como doces, cereais matinais açucarados, salgadinhos, bolinhos e biscoitos, entre outros. Em vez disso, coma alimentos naturais ou preparados em casa. Evite carne processada, como embutidos (presunto, mortadela), salsichas, linguiças ou carnes salgadas, e limite o consumo de carne vermelha. Limite o consumo de bebidas em temperaturas muito quentes, como mate, chá ou café. Aguarde alguns minutos até sentir que o líquido não queima seus lábios ou língua.  

6. Evite o consumo de bebidas alcoólicas para ajudar a prevenir vários tipos de câncer.  

7. Amamente, quanto mais meses, melhor, para ajudar a prevenir o câncer de mama e o excesso de peso na criança. 

8. Proteja-se da exposição direta ao sol nos horários de maior intensidade para ajudar a prevenir o câncer de pele.  

9. Se você cozinha ou aquece sua casa com carvão mineral ou lenha, evite o acúmulo de fumaça dentro de casa.  

10. Se houver alta poluição do ar em seu ambiente (externo), limite o tempo que você passa ao ar livre.  

11. Informe-se se o seu trabalho o(a) expõe a substâncias que podem produzir câncer e exija e adote as medidas de proteção recomendadas.  

12. A infecção pela bactéria Helicobacter pylori pode causar câncer de estômago. Converse com os profissionais de saúde para ver se você poderia se beneficiar da detecção da bactéria e do tratamento da infecção.  

13. Infecções por vírus como os das hepatites B e C, o vírus do papiloma humano (HPV) e o vírus da imunodeficiência humana (HIV) também podem causar câncer. Portanto: Vacine as crianças contra o vírus da hepatite B nas primeiras 24 horas de vida. Vacine-se e sua família, em qualquer idade, caso não tenham recebido a vacina. Vacine meninas e adolescentes contra o vírus do papiloma humano (HPV) para ajudar na prevenção, principalmente, do câncer do colo do útero, além de outros tipos de câncer. Realize essa medida preventiva nas idades recomendadas em seu país. Se disponível, vacine também os meninos. Converse com profissionais de saúde para saber se você pode se beneficiar da detecção e tratamento dos vírus das hepatites B e C para ajudar a prevenir o câncer de fígado. Faça o teste para o vírus da imunodeficiência humana (HIV) e pergunte sobre os programas de prevenção e tratamento disponíveis em seu país. Certifique-se de usar preservativo ou camisinha de forma correta e sistemática, especialmente com parceiros novos ou casuais.  

14. Não faça reposição hormonal na menopausa, a menos que seja indicada pelo seu médico. A reposição hormonal pode causar câncer de mama.  

15. Se você tem entre 50 e 74 anos, procure o serviço de saúde e solicite o exame de detecção precoce do câncer de cólon e reto (sangue oculto nas fezes ou colonoscopia). De acordo com os resultados, siga as recomendações do profissional de saúde.  

16. Se você tem 40 anos ou mais, vá ao serviço de saúde a cada dois anos para fazer um exame clínico das mamas. A partir dos 50 até os 74 anos, faça uma mamografia a cada dois anos. De acordo com os resultados, siga as recomendações do profissional de saúde.  

17. Se você tem entre 30 e 64 anos, procure o serviço de saúde e solicite o teste molecular do vírus do papiloma humano (HPV), pelo menos a cada 5 a 10 anos, para detecção precoce do câncer do colo do útero. Pergunte se você mesma pode coletar a amostra. Caso não tenha acesso ao teste de HPV, solicite o teste disponível em seu país. De acordo com os resultados, siga as recomendações do profissional de saúde. 

* Com informações da Opas.