Hamilton Assunção, músico da banda Harmonia Enlouquece, é o novo entrevistado do Enloucast – o podcast ‘fora da caixinha’
A música no cuidado à saúde e em defesa da Reforma Psiquiátrica marcam o segundo programa da série Enloucast, o podcast fora da caixinha, que já está no ar. O novo programa tem como convidado o músico e militante da luta antimanicomial, Hamilton de Jesus Assunção. Em entrevista a Camila Motta e Jéssica Marques, da equipe do o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Laps/Ensp/Fiocruz) Hamilton aborda sua trajetória como usuário do Centro de Psiquiatria do Rio de Janeiro (CPRJ), onde, em processo de psicoterapia, lidou inicialmente com desenho e pintura e, em seguida, com música. A trajetória resultou na fundação da banda Harmonia Enlouquece, que atua há 23 anos, com grande projeção no campo artístico e cultural da Reforma Psiquiátrica brasileira. Uma das composições de Hamilton, Sufoco da vida, abre a série Enloucast, por sinal.
Fruto de parceria entre o Laps/Ensp e o Centro de Estudos Estratégicos Antonio Ivo de Carvalho, o Enloucast teve seu lançamento em 9/11//2023, durante o 7º Seminário a Epidemia das Drogas Psiquiátricas.
No CPRJ, Hamilton travou contato com músicos de expressão, como João Barone, do grupo Paralamas do Sucesso, Jorge Israel, do Kid Abelha, Paulinho Moska e Ana Carolina, conforme relata. “Fiquei na música”, resume, explicando que não sabe dizer como se deu a inspiração para compor Sufoco da vida – estou vivendo no mundo do hospital, tomando remédio de psiquiatria mental. Aldol, Diazepan, Rohypnol, Prometazina. Meu médico não sabe como me tornar um cara normal, diz um trecho da letra. “As palavras foram surgindo. Dei sorte de saber fazer a conexão, de unir as palavras em frases que se associam”, define.
Hamilton inspirou o personagem Tarso, da novela Caminho das Índias – de Gloria Perez, exibida em 2009 –, diagnosticado com esquizofrenia e interpretado por Bruno Gagliasso. “A pessoa que tem algum problema ou é esquecida ou é muito vista, marcada como problemática. A pessoa normal não é tachada de nada. Se está desempregada é porque não está dando sorte. O louco é excluído de todas as formas”, analisa, relatando que hoje utiliza menos medicamentos e mais arte e que está em vias de utilizar o canabidiol (CBD), derivado da cannabis, em seu tratamento. “Estão me tirando da escravização das químicas”.
Sobre a série Enloucast
Enloucast, o podcast fora da caixinha é uma iniciativa do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Laps/Ensp), em parceria com o Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz e o CEE Podcast e teve seu lançamento em 9/11/2023, no 7º Seminário Internacional Epidemia das Drogas Psiquiátricas, com o objetivo de ampliar o debate sobre Saúde Mental para além dos muros da Academia.
O perfil dos entrevistados inclui usuários, ex-usuários, sobreviventes (expressão utilizada para identificar pessoas que conseguiram superar o modelo psiquiátrico de tratamento) e profissionais e pesquisadores de saúde mental, que desenvolvem práticas inovadoras. A ideia é trazer para a pauta a visão de uma saúde mental mais ampla, humanizada, para além da ausência de doença, da ideia de transtorno e que ultrapasse o caminho da medicalização.
O primeiro entrevistado do Enloucast foi o sanitarista Paulo Amarante, pesquisador sênior do Laps/Ensp e do CEE, um dos pioneiros na luta antimanicomial no Brasil, presidente de honra da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme).
As entrevistas do Enloucast podem ser acessadas na plataforma Spotify, no canal do Laps no Youtube e no blog do CEE-Fiocruz.
Assista aos episódios da série Enloucast
Casa Tuxi, a pousada da inclusão e do acolhimento, em pauta no terceiro episódio do Enloucast
Arte como terapia, em mais um Enloucast, o podcast ‘fora da caixinha’ do CEE-Fiocruz