G-Stic 2023: Conferência afirma a Agenda 2030 como plano global para reconstrução do mundo pós-pandemia
A Agenda 2030 como o melhor roteiro para a reconstrução das sociedades globais no pós-pandemia, com equidade e justiça social entre povos e nações, foi destaque nas falas dos especialistas que integraram a mesa de abertura e o painel de alto nível da 6ª reunião anual da Comunidade Global de Tecnologia Sustentável e Inovação (G-Stic), realizada de 13 a 15/2/2023 no Rio de Janeiro, com o tema Por um futuro equitativo e sustentável: soluções tecnológicas inovadoras para uma melhor recuperação pós-pandemia, tendo a Fiocruz como coanfitriã.
“Quase oito anos após a comunidade mundial ter adotado a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável a ela associados, os desafios permanecem e há muito o que avançar”, observou a ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, em sua exposição. “Os serviços essenciais de saúde estão fora do alcance de pelo menos 50% da população mundial; 2,4 bilhões de pessoas não têm acesso a saneamento adequado; cerca de 840 milhões permanecem sem acesso a eletricidade e quase 700 milhões não têm acesso a água potável”, exemplificou.
Para Nísia, é necessária uma “visão sistêmica” diante desses dados, do contrário, será difícil alcançar o objetivo maior da Agenda 2030 de não deixar ninguém para trás. “A pandemia de Covid-19 nos faz pensar nessa agenda como um esforço de recuperação, preparação e resiliência”, disse a ministra, destacando a importância do compromisso de setores empresariais, sociedade civil, movimentos sociais, organismos internacionais e nacionais nessa direção e defendendo a ciência, a tecnologia e a inovação como elementos estratégicos para implementação da Agenda 2030.
“Não é possível alcançar os ODSs com os instrumentos de sempre. Precisamos urgentemente de soluções tecnológicas e inovações em sentido amplo, integradas e em escala, orientadas por uma visão sistêmica e pelas premissas de equidade e justiça social”, apontou, reafirmando a Agenda 2030 como “a grande opção que a humanidade tem para superar a crise provocada pela pandemia” e anunciando que “o Brasil retoma a Agenda 2030 como eixo central de sua atuação”.
Nísia realçou, ainda, o compromisso da sua pasta com o fortalecimento do Complexo Econômico Industrial da Saúde no país e com o investimento na produção nacional e regional de vacinas, medicamentos, equipamentos e demais insumos para abastecer o Sistema Único de Saúde, bem como para apoiar e cooperar com outros países em desenvolvimento, principalmente na América Latina e no Caribe.
O presidente interino da Fiocruz, Mario Moreira, destacou a realização da conferência G-Stic pela primeira vez na América Latina, “região afetada pelas desigualdades sociais e pelas injustiças” e, ao mesmo tempo, “com alto potencial de desenvolvimento científico e abundância e diversidade de recursos naturais”. Ele lembrou que a pandemia de Covid-19 demonstrou como a saúde influencia a vida cotidiana e a sociedade. “Nos últimos três anos, a Agenda 2030 ficou em segundo plano e todos os Objetivos de Desenvolvimento sustentável regrediram. O desenvolvimento e, principalmente, a cooperação em ciência, tecnologia e inovação são fundamentais para avançarmos para um mundo próspero, para todos”, defendeu.
Para Moreira, a tríplice crise planetária, de mudanças climáticas, perda da biodiversidade e poluição, urge por soluções transformadoras para que o desenvolvimento seja compatível com a conservação da natureza. Entre os pontos em discussão no evento, destacou “as perspectivas para a produção local de vacinas com vistas a um melhor e mais equânime acesso” e “os desafios globais em relação aos direitos de propriedade intelectual”.
O Brasil retoma a Agenda 2030 como eixo central de sua atuação (Nísia Trindade Lima, ministra da Saúde)
À frente da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030 e da organização da G-Stic no Rio de Janeiro, o ex-presidente da Fiocruz Paulo Gadelha lembrou que grandes desafios se impõem com as assimetrias globais e destacou a “desconexão entre propriedade intelectual e bem comum” que se observa hoje, defendendo o necessário engajamento entre políticos, gestores e sociedade. Para Paulo Gadelha, embora trágica, a Covid-19 representou uma oportunidade para se reconfigurar o mundo.
A representante da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e da OMS no Brasil, Socorro Gross, também enfatizou a busca por mais equidade, observando que “o mundo é um só, a humanidade é uma só uma, mas praticamente metade se encontra sem acesso”. Ela defendeu o fortalecimento de redes colaborativas em nível global e que a inovação seja produzida com e para as pessoas, de forma sustentável. “Estamos, neste momento, recuperando a esperança de que podemos, como humanidade, trabalhar solidariamente, inovar solidariamente, com o aprendizado que tivemos na pandemia. Este encontro, hoje, é um momento para refletir, compartilhar, pensar no que é inovação”.
O ministro de Relações Exteriores e representante permanente do Quênia na ONU, Macharia Kamau, destacou a pouca produção de conteúdo em nível global que “fala com os africanos”, o que se soma a barreiras políticas e sociais, em especial entre países que restringem o acesso a redes sociais. “Temos ainda a grande lacuna digital entre as pessoas rurais e urbanas, povos indígenas, os ricos e os pobres, entre o Sul e o Norte”, disse. “E temos que superar isso para alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável”.
A G-Stic reúne um conjunto de instituições e tem representações em todas as regiões do mundo, sendo considerada a maior conferência global de ciência, tecnologia e inovação para aceleração da Agenda 2030. As reuniões anuais realizavam-se na Bélgica desde que tiveram início, em 2017, e a Fiocruz passou a participar a partir do ano seguinte, em 2018. Em 2022, o evento realizou-se em Dubai e, na oportunidade, a Fiocruz propôs que a conferência de 2023 se realizasse no Brasil.
A G-Stic é organizada em conjunto pela Vito (organização belga de pesquisa, tecnologia e desenvolvimento sustentável) e sete outros institutos de pesquisa sem fins lucrativos: Fiocruz, Conselho de Pesquisa Científica e Industrial, África do Sul (CSIR), Instituto de Conversão de Energia de Guangzhou, China (Giec), Instituto de Ciência e Tecnologia de Gwangju, Coreia do Sul (Gist), Centro Nacional de Gestão de Tecnologia, Nigéria (Nacetem), Instituto de Energia e Recursos, Índia (Teri) e Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (SDSN).
No Brasil, a G-Stic Rio teve patrocínio da Petrobras, Pfizer e Fiotec, além empresas Aegea, IBMP, Instituto Helda Gerdau, Klabin, Sanofi, GSK, Enel, Engie, The Rockefeller Foundation, RaiaDrogasil e Firjan, com apoio do Instituto Clima e Sociedade.